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Caminhoneiros voltam a parar rodovias
Gustavo Porto, Mário Braga, Gabriela Lara, José Maria Tomazela, Raquel Brandão, Danieal Fradalise, Letícia Pakulsi e Suzana Inhesta
Sem acordo com o governo federal para tabelar o valor do frete, caminhoneiros voltaram ontem a paralisar rodovias em quatro Estados brasileiros. A mobilização começou nas primeiras horas da manhã, quando manifestantes fecharam a BR-386 em Soledade, região norte do Rio Grande do Sul. Como aconteceu no protesto de fevereiro, pelo menos vinte caminhoneiros que tentaram furar os bloqueios tiveram os veículos apedrejados.
Ainda de manhã, segundo a Polícia Rodoviária Federal, havia 17 pontos de paralisação em rodovias do Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Mato Grosso. Em Santa Catarina, os motoristas foram impedidos de fechar as rodovias pela PRF, mas se concentraram nas margens da BR-282, em São Miguel do Oeste e Maravilha, e da BR-153, em Concórdia e Irani. Em Maravilha, manifestantes fizeram uma barricada na rodovia e atearam fogo, mas as chamas foram logo controladas. De madrugada, houve barricadas com incêndios também no Rio Grande do Sul.
No início da tarde, o número de bloqueios caiu para 14, sendo seis no Rio Grande do Sul – um deles na ERS-155, uma rodovia estadual –, cinco em Mato Grosso e três no Paraná, segundo boletim da PRF. Em Minas, a BR-381, fechada em Igarapé, próximo de Belo Horizonte, foi liberada. Os bloqueios não chegaram a afetar a passagem de carros, ônibus e veículos de emergência.
São Paulo. Em Mato Grosso, os caminhoneiros montaram barracas nas margens de rodovias, mostrando a intenção de dar sequência ao protesto. Até o final da tarde, o movimento não havia atingido São Paulo, mas organizações de caminhoneiros pediram, pelas redes sociais, adesão ao protesto.
De acordo com a Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), as lideranças dos caminhoneiros pretendem manter as manifestações até o que o governo retome as negociações para adoção de uma tabela de preços mínimos para o frete. Para Miguel Mendes, presidente da Associação dos Transportadores de Cargas do Mato Grosso (ATCMT), a tabela é necessária para estabelecer um equilíbrio nas negociações, já que atualmente o valor do frete é imposto pelas empresas donas das cargas.
Nos últimos 30 dias, segundo ele, houve queda de 20% no preço, o que acirrou os ânimos dos caminhoneiros. A categoria reclama que o acordo feito no início de março com o governo foi cumprido apenas parcialmente. Um dos itens, o fim da cobrança de pedágio por eixo suspenso nos caminhões, não vale para as rodovias paulistas, usadas por 50% da frota. Ainda não foi votada pelo Senado a medida que prorroga o financiamento dos caminhões. “Para o caminhoneiro, a sensação é de que ele ganhou, mas não levou.”
Soja. Os bloqueios iniciados ontem podem afetar o escoamento da soja para os portos, segundo o presidente do Sindicato Rural de Lucas do Rio Verde, Carlos Simon. O impacto será menor que o do último protesto porque a colheita do grão está praticamente encerrada. Segundo ele, se os bloqueios persistirem por mais tempo, podem afetar a colheita do milho safrinha, que começa em maio.
Para o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), Ricardo Tomczyk, pode haver prejuízo na exportação do grão. “Este é o momento de pico de comercialização e precisa haver fluxo. As compradoras também precisam saber o valor do frete para compor os preços.” Segundo ele, se os protestos continuarem, podem prejudicar a armazenagem, já que a soja precisa ser escoada para dar lugar ao milho que será colhido.
Folha de S. Paulo