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Cartão cresce, mas o papel resiste

Após o declínio da participação do cheque nas compras de bens e serviços, as empresas que atuam nas diversas modalidades eletrônicas de pagamento lutam para tentar vencer outra cultura do brasileiro: o uso papel-moeda. “O principal concorrente da Visa é o dinheiro em papel. Há muito espaço para trazer os gastos para o cartão”, afirma Rogério Signorini, diretor sênior de produtos da Visa. Segundo informa, os brasileiros usam plástico em 28% de suas compras enquanto em países mais maduros, como os Estados Unidos, esse percentual chega a 40%.

Segundo o executivo, as pessoas ainda fazem questão de sacar com o cartão de débito, mesmo havendo uma rede de aceitação para esse meio de pagamento de mais de 1,5 milhão de terminais POS, as conhecidas maquininhas. O brasileiro é um dos que mais sacam dinheiro vivo entre os países desenvolvidos financeiramente, segundo o CardMonitor. A cada ano, retiram em caixas eletrônicos aproximadamente R$ 1 trilhão.

Assim como a Visa, a Mastercard também tem estratégias para abocanhar esse filão. Alexandre Magnani, vice-presidente de Desenvolvimento de Novos Negócios para o Brasil e Cone Sul, afirma que 40% da população brasileira ainda não tem acesso a serviços financeiros formais e 55% dos trabalhadores recebem seus salários em papel-moeda. “É um grande espaço para crescer as operações com cartão”. Para ele, as transações em dinheiro tem alto custo. “Para fazer a nota, distribuir e custodiar são gastos entre 0,5% e 1,5% do PIB”.

Pesquisa Datafolha, encomendada pela Associação Brasileira de Cartões de Crédito e Serviço (Abecs) em 2013, mostra que 76,1% da população com mais de 18 anos em 11 estados pesquisados tem algum tipo de plástico. Em 2008 eram 68%. Em números absolutos são 20,4 milhões de brasileiros, ante 16 milhões.

As operações com cartão expandem em larga escala. Dados do Banco Central mostram que entre 2008 e 2014 houve alta de 137,31% nas transações com o uso do plástico – de 2,1 bilhões para 4,8 bilhões. Na contramão, o número de cheques compensados foi de 378 milhões ao final do primeiro semestre deste ano, recuo de 46,15% e seguindo tendência de queda.

O valor transacionado com cartões de débito e crédito acompanhou essa evolução com expansão anual média na casa dos 20%. Mesmo em trajetória de aumento um pouco mais tímida neste ano, 17,1%, a Abecs estima que o volume de pagamentos por meio eletrônico alcance a casa do R$ 1 trilhão. Significa quase um quinto de todas as riquezas produzidas no país no ano passado, quando o PIB atingiu R$ 4,8 trilhões, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo a Abecs, em 2013 foram R$ 853 bilhões em transações. No crédito, o volume financeiro somou R$ 553 bilhões. No débito, R$ 300 bilhões.

“O Brasil, mesmo crescendo acima da média de americanos e europeus anualmente, ainda tem grande potencial para utilização de cartões como meio de pagamento. Estima-se que só atingiremos o nosso potencial de mercado em 2025?, diz Peterson Pais, gerente de Parcerias da Accesstage.

A posse de meios eletrônicos está concentrada nas classes de alta renda (A e B), mais escolarizada e com idade entre 25 a 44 anos. De acordo com dados da Visa, 17% dos brasileiros estão nesse segmento dos quais 91% possuem cartão. Eles têm média de gasto mensal de R$ 3.396,00, dos quais 36% com cartão de crédito, 18% plástico na função débito e 26% em dinheiro.

Já 70% da classe C tem no mínimo um cartão. Esse percentual é de 42% para D e E. Segundo a Abecs, o aumento do uso de cartões de débito e crédito pelas classes de mais baixa renda contribuiu para a redução do ticket médio. Para o crédito, o valor estava em R$ 83,40 ao final do primeiro semestre deste ano, tendo já alcançado R$ 91,30 no segundo semestre de 2010. No débito, o gasto médio está em R$ 43,50, mas alcançou os R$ 47,40 na mesma comparação.

Ao trazer mais gente para o sistema, além do ganho de escala, aumenta o contato com produtos financeiros mais sofisticados. Para Magnani, o instrumento de acesso ao público de classe D e E, e principalmente que não tem conta em banco, é o cartão pré-pago. Como facilitador de fluxos financeiros, os cartões pré-pagos chegaram para abrir mais canais nos meios de pagamento. São usados para transporte, alimentação, presente, mesada, pagamento de profissionais autônomos. Pode usar em qualquer lugar, sacar e as tarifas não são as mesmas que as do cartão de crédito. Do ponto de vista comercial, um importante ganho em escala. “Há grandes varejistas estudando vender cartões pré-pagos para uso geral em suas lojas”, adianta o diretor-executivo da Conductor, Antonio Soares.

A projeção do Instituto Euromonitor é que o número de cartões com a função pré-pago chegue a 72,7 milhões ao final de 2014, alcançando 89,5 milhões em 2016. Os dados são do Grupo Setorial de Pré-Pagos (GSPP), que agrega instituições não financeiras que atuam nesse mercado.

Ao estabelecer um marco regulatório para o setor, por meio da Lei 12.865, o governo sedimentou o caminho para as empresas. Joel Nunes, da ACI Worldwide Brasil, afirma que a regulamentação de arranjos de pagamentos abre oportunidades importantes no mercado, principalmente porque foi construída sobre os pilares de inovação, promoção da competição e inclusão financeira. “Além da maior abertura aos serviços financeiros, a lei também estabelece normas de prevenção à lavagem de dinheiro e terrorismo”, afirma.

Olivia Aki, diretora de pré-pagos da Vista, também elogia: “A regulamentação deu respaldo necessário e favoreceu o crescimento desse mercado”, diz. “É a porta de entrada do portador para o mundo financeiro, pois ele passa a ter acesso a uma série de serviços que antes desconhecia”.

Valor Econômico