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Conselho se reúne nesta sexta-feira para escolher nova diretoria da Petrobras
Em meio às novas informações sobre o esquema de corrupção na Petrobras que vieram à tona com a deflagração da nona fase da Operação Lava-Jato da Polícia Federal, o Conselho de Administração da estatal deverá escolher nesta sexta-feira o nome do novo presidente e de cinco novos diretores da empresa. A reunião começa às 9h, na sede da Petrobras em São Paulo.
Segundo um executivo ligado à companhia, o nome que for apresentado pela presidente Dilma Rousseff para substituir Graça Foster deverá passar pelo crivo dos conselheiros. Além disso, devem ser apresentados os nomes de cinco outros diretores.
Cinco dos sete diretores atuais e Graça Foster deixam os seus cargos. A renúncia da equipe foi comunicada na última quarta-feira pela estatal ao mercado em fato relevante enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Alguns membros do Conselho de Administração da Petrobras se reuniram ontem para analisar nomes de executivos tanto da Petrobras quanto do mercado, para serem levados como sugestão na reunião de hoje para ocupar os cargos de diretoria. São aguardadas também indicações da presidente Dilma Rousseff.
— A ideia é que a reunião de amanhã (hoje) já tenha algumas sugestões de nomes para ocuparem os cargos de diretores, que serão apresentadas pelos conselheiros — disse um funcionário da Petrobras.
REUNIÃO TEVE PAUTA ALTERADA
Além de Graça, renunciam o diretor de Exploração e Produção, José Formigli, o da área Financeira, Almir Barbassa, o de Abastecimento, José Carlos Cosenza, o de Gás e Energia, Alcides Santoro, e o de Engenharia, José Figueiredo.
O diretor Corporativo, José Eduardo Dutra, ex-presidente da Petrobras e ex-presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), permanece no cargo, assim como o novo diretor de Governança, João Adalberto Elek. Dutra está afastado em licença médica.
A reunião do Conselho de Administração da Petrobras já estava prevista para acontecer hoje, mas a pauta era bem diferente. Entre os vários assuntos de rotina da companhia, estava prevista a apresentação do novo diretor de Governança, indicado recentemente para o cargo. Era esperada também a apresentação do Comitê Especial criado no fim do ano passado.
Esse Comitê será o interlocutor das várias investigações internas em andamento sobre as denúncias de corrupção e o Conselho de Administração. O comitê é formado pela ministra aposentada do Supremo Tribunal Federal (STF) Ellen Gracie, pelo executivo Andreas Pohlmann, que foi diretor de Governança da Siemens, e pelo diretor de Governança da Petrobras, João Elek.
DIFERENTES PREFERÊNCIAS
Ao longo do dia, ficou claro que cada ala do governo tinha diferentes candidatos. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, por exemplo, estava defendendo um nome de prestígio no mercado internacional: o presidente do Goldman Sachs no Brasil, Paulo Leme. Já a preferência do ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, seria por Murilo Ferreira. Graça Foster, que renunciou ao comando da estatal, mas que conta com a confiança de Dilma, defendia Coutinho.
O presidente do BNDES seria uma solução “temporária e emergencial” para o comando da Petrobras, segundo uma fonte do governo, em função da saída inesperada de Graça e de cinco diretores da estatal na quarta-feira. Coutinho hoje já é um dos representantes do Poder Executivo no Conselho de Administração da empresa e tem um substituto engatilhado. A presidente Dilma deve colocar no BNDES o atual presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine.
Assim, Coutinho comandaria a estatal até que o Conselho de Administração da empresa conseguisse buscar um nome de mercado com mais calma. Essa solução, no entanto, não era vista como a melhor por parte dos integrantes do governo. Na avaliação deste grupo, o presidente do BNDES como presidente tampão só arrastaria o Planalto para mais semanas de angústia em busca de um nome. Dilma estava em busca de um nome “autoexplicativo” e com credibilidade no mercado, o que não coadunaria com o perfil de Coutinho.
Na equipe econômica, a avaliação é que o ideal para a Petrobras seria que ela fosse assumida logo por um nome do mercado, como Murilo Ferreira ou até mesmo Antonio Maciel Neto, presidente do grupo Caoa. No entanto, diante do escândalo de corrupção que envolve a estatal e dos problemas da empresa para auditar seu balanço, essa costura é difícil. Especialmente considerando o pouco tempo que o Palácio do Planalto tem para resolver a questão.
Em meio a essa pressão temporal está o fato de, na avaliação de um ministro, o governo não ter margem para errar na escolha, já que a situação da Petrobras é delicadíssima. Dilma havia pedido que Graça e a diretoria ficassem nos cargos até que os problemas no balanço fossem resolvidos, mas cinco diretores se rebelaram depois do vazamento da informação de que a presidente da estatal teria perdido a rede de proteção junto ao governo e teria que sair.
Enquanto isso, Joaquim Levy também se debruça sobre uma solução para o problema no balanço da Petrobras, relativo ao terceiro trimestre. A PricewaterhouseCoopers (PwC), responsável por auditar as contas da estatal, se recusou a continuar o trabalho, alegando falta de entendimento sobre o tamanho das perdas da empresa com o esquema de corrupção. Segundo a Petrobras, R$ 88,6 bilhões de 31 ativos foram superavaliados, com indícios de sobrepreço, o que poderia mostrar o custo de parte das irregularidades.
EXIGÊNCIAS EXCESSIVAS
Na avaliação da Fazenda, as exigências da PwC para aceitar o balanço do terceiro trimestre seriam excessivas, incluindo até uma análise preliminar da Securities and Exchange Commission (SEC, órgão americano que equivale à Comissão de Valores Mobiliários no Brasil). Por isso, Levy e sua equipe negociam uma forma de resolver o impasse.
Além da preocupação com o novo presidente da Petrobras, um grupo de ministros se dedicava, paralelamente, a conversas com empresários para compor a diretoria e o conselho de administração da empresa. Apesar de Dilma acenar aos cotados para a vaga de Graça que terão autonomia para definir a nova direção da estatal, quatro ministros — Levy, Mercadante, Nelson Barbosa (Planejamento) e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini — têm a tarefa de ajudar nessa busca. Se Coutinho for escolhido, Dilma acabará antecipando a definição dos dirigentes dos bancos públicos, já que Bendine será descolado para o BNDES. Miriam Belchior irá para a Caixa Econômica Federal e Alexandre Abreu é o nome mais forte para o Banco do Brasil.
O Globo Online