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Grupo britânico investe no etanol brasileiro

A BP Biofuels do Brasil, braço de energia renovável da petrolífera britânica BP, anunciou ontem que assinou um acordo para adquirir 83% da Companhia Nacional de Açúcar e Álcool (CNAA), produtora brasileira de etanol, por US$ 680 milhões. A compra de 83% do controle da CNAA (os 17% restantes continuam nas mãos do grupo francês Louis Dreyfus) significa uma mudança de estratégia da companhia britânica, que, até o ano passado, buscava o “controle compartilhado”, com até 50% do capital das usinas.


A iniciativa também representa uma aposta concreta na produção de etanol a partir de cana-de-açúcar. Esta é a segunda aquisição de usinas da BP em território brasileiro, e a maior já realizada pela empresa no setor de energia renovável. Em 2008, a companhia pagou R$ 100 milhões por 50% da Usina Tropical BioEnergia, localizada em Goiás.


— O etanol de cana-de-açúcar terá um papel fundamental no crescimento do mercado de biocombustíveis no mundo — disse Mário Lindenhayn, presidente da BP Biofuels Brasil, durante uma teleconferência com jornalistas.


Negócio, planejado desde 2010, depende de aprovação


Com a aquisição, que ainda depende de aprovação de órgãos reguladores e do cumprimento de cláusulas contratuais, a BP espera conquistar boa parte do mercado brasileiro, embora tenha planos de vender etanol no exterior. Na proposta de compra, a BP se compromete a assumir toda a dívida da CNAA e diz que vai refinanciá-la em prazos mais longos. Segundo Lindenhayn, o interesse da BP na CNAA surgiu há mais de um ano, mas as negociações só começaram no segundo semestre de 2010.


Criada em 2007 por meio de uma joint venture entre o antigo grupo Santelisa Vale (incorporado pela Louis Dreyfus Commodities) e investidores estrangeiros como o Riverstone, do Carlyle Group, além do Goldman Sachs, da Global Foods e da Discovery Capital, a CNAA conseguiu construir duas usinas, apesar de ter enfrentado dificuldades financeiras. Uma fica em Itumbiara, em Goiás, e a outra em Ituiutaba, no Triângulo Mineiro.


Produção de até 1,4 bilhão de litros por ano


Uma terceira unidade da CNAA está sendo construída na cidade mineira de Campina Grande. A companhia, segundo Antonio de Pádua Rodrigues, diretor-técnico da Unica, que reúne as empresas do setor, pode ser considerada de porte médio, mas tem grande potencial de crescimento. A participação adquirida pela BP estava nas mãos dos fundos Açúcar e Álcool Fundo de Investimento em Participações e Açúcar e Álcool II Fundo de Investimento em Participações.


O negócio representa um aumento considerável na capacidade produtiva de etanol da BP no Brasil. Com todas as usinas funcionando a plena carga, a empresa britânica passará a gerar anualmente 1,4 bilhão de litros, contra os atuais 435 milhões de litros produzidos pela Usina Tropical Bioenergia. Já a capacidade total de moagem passará para 15 milhões de toneladas de cana-de-açúcar por ano. Cada unidade da CNAA terá capacidade de produção de 480 milhões de litros de etanol, além de um excedente de 340 gigawatt/hora para ser comercializado no setor de energia elétrica.


— Nossos planos são ambiciosos. Temos como objetivo ficarmos entre os principais produtores de etanol do país nos próximos dez anos — disse Lindenhayn, que não descartou novas aquisições para atingir essa meta. — Temos interesse em outros ativos no Brasil. Mas tudo vai depender das oportunidades que surgirem.


Imagem abalada após desastre ambiental


Para a BP, a aposta no etanol brasileiro representa uma busca não só por novos campos lucrativos, mas também por uma grande mudança de perfil. A imagem da empresa foi abalada por um dos maiores desastres ambientais da História: no ano passado, mais de quatro milhões de barris de petróleo vazaram de um de seus poços no Golfo do México. A BP teve de gastar cerca de US$ 8 bilhões para conter o derramamento, que durou 87 dias. Em 2010, a BP registrou um  prejuízo de US$ 4,9 bilhões, o primeiro em 20 anos. Apesar disso, no último trimestre, viu seu lucro crescer 30%, para US$ 5,6 bilhões.


No mês passado, uma outra gigante estrangeira do petróleo, anglo-holandesa Shell, uniu-se à brasileira Cosan para também apostar no mercado de etanol. As duas empresas criaram uma joint venture, a Raízen, que nasceu com valor de mercado estimado em US$ 12 bilhões e faturamento anual de R$ 50 bilhões. A união resultou na terceira maior distribuidora de combustíveis do país, atrás apenas da BR e do grupo Ultra.


Com a criação da Raízen, a marca Esso, adquirida em 2008 pela Cosan, será substituída pela bandeira Shell em um prazo de 36 meses.

O Globo