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Maior adição de álcool na gasolina recebe críticas

Importadores de carros criticaram o projeto de lei aprovado na terça-feira pelo Senado que autoriza maior adição de etanol à gasolina. O texto, que segue agora para a sanção da presidente Dilma Rousseff, eleva de 25% para 27,5% o percentual máximo permitido na mistura de álcool anidro na gasolina. O governo ainda vai avaliar a viabilidade técnica dessa mudança. A medida atende a um pleito das usinas sucroalcooleiras, mas desagrada a setores de comercialização de veículos, preocupados com prejuízos decorrentes do possível desgaste prematuro das peças. Marcel Visconde, presidente da Abeifa, entidade que reúne marcas de carros importados, disse ontem que os impactos técnicos dessa adição do etanol no combustível são relevantes e podem trazer prejuízos para as empresas. Ele, porém, não entrou na discussão técnica sobre os possíveis efeitos nocivos dessa mudança. A Anfavea, entidade das montadoras, já havia manifestado recentemente posição parecida com a da Abeifa. Adicionar mais etanol à gasolina não teria qualquer impacto para os automóveis produzidos no Brasil, que, com a tecnologia flex, estão preparados para rodar com os dois combustíveis. A questão está nos automóveis importados que funcionam apenas com gasolina. Carros desse tipo respondem por quase 6% dos veículos vendidos no país. Neste ano, eles somaram mais de 105 mil unidades até julho. A preocupação é que a adição de etanol leve à substituição prematura de peças, o que pode significar perdas para as montadoras se o carro estiver em período de garantia. Segundo representantes da Abeifa, diante de uma mistura de álcool de 27,5%, alguns veículos podem ter dificuldades em dar partida e, por isso, as empresas podem até desistir de trazer ao país modelos potencialmente afetados. Eles avaliam também que a adição de álcool é inconsistente com políticas de redução de emissões de gases. A Unica, que representa as usinas de álcool, nega prejuízos tanto para os consumidores quanto ao meio ambiente. O tema é, portanto, polêmico. Engenheiros consultados pelo Valor, não vinculados a nenhuma dessas associações, citam efeitos corrosivos do etanol no contato com componentes metálicos não revestidos. Eles dizem, porém, que quase todos os veículos já estão preparados para misturas de etanol superiores a 30%, com tecnologias que incluem sensores para corrigir a mistura do combustível. O maior problema seria para as frotas mais antigas, de carros produzidos há quase duas décadas, diz Sílvio Shizuo, professor de engenharia mecânica do Centro Universitário da FEI. Porém, como os motores são calibrados para mistura de álcool de 22%, a maior adição de etanol na gasolina pode afetar o rendimento dos carros, assim como a emissão de gases. Isso, contudo, não acontece de forma muito perceptível ao consumidor, afirma Henrique Pereira, engenheiro da comissão técnica de motores da SAE Brasil. De acordo com o especialista, não chega a 1% o aumento no consumo de combustível com a mudança no percentual de etanol aprovada pelo Congresso, de 25% para 27,5%. Além de criticar essa nova mistura na gasolina, a Abeifa defendeu ontem uma atualização no sistema de cotas de importação do novo regime automotivo, conhecido como Inovar-Auto. O programa limita em, no máximo, 4,8 mil carros por ano o volume de importações livre da sobretaxa de 30 pontos percentuais do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) - aplicada há dois anos e meio nas compras de automóveis dos países sem acordos comerciais com o Brasil. A cota de cada marca foi fixada com base na média das importações feitas entre 2009 e 2011 - os três anos anteriores à edição do Inovar-Auto - e vale até o fim do programa em 2017. Para ter direito a importar mais veículos sem o IPI extra, as empresas precisam investir na produção de carros no Brasil, o que ajuda a explicar a série de projetos de fábrica anunciados nos últimos três anos. Ainda que muitas das marcas filiadas à Abeifa não estejam usando toda a cota disponível, em virtude da queda no consumo, Visconde citou o congelamento das cotas entre os pontos do regime automotivo que ainda precisam passar por ajustes. "Você não pode represar um número por cinco anos", disse o executivo durante entrevista a jornalistas.

Valor Econômico