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Pico de preços na entressafra leva a questionamentos

O recente pico dos preços do etanol contribuiu para que o combustível extraído da cana-de-açúcar fosse alvo de questionamentos. Embora exista unanimidade em relação aos benefícios ambientais que o uso do etanol acarreta, há quem veja no movimento de alta recente um sinal de suas desvantagens econômicas.

No seu pico de alta, o etanol chegou a ter, em Porto Alegre, por exemplo, o seu preço equiparado ao da gasolina em R$ 2,69 o litro. Ultrapassou-se, na opinião de alguns críticos, a relação ideal entre os preços dos dois combustíveis, pela qual o álcool deveria custar 70% do valor da gasolina - o que corresponde, na realidade, à capacidade energética dos dois combustíveis. Além disso, a alta recente teve como efeito colateral influenciar também uma elevação dos preços da gasolina, que recebe álcool como aditivo.

"Essa relação energética entre o álcool e a gasolina, que costumam afirmar que seria de 70%, não é verdadeira. Mesmo na época do Proalcoool, a relação era correspondente a 75% do preço praticado para a gasolina", afirma o presidente do Grupo Maubisa, Maurílio Biagi Filho. Segundo Biagi, essa relação é variável, dependendo do tipo de veículo, mas hoje o álcool corresponderia a 85% do preço da gasolina.

Lidando diariamente com a gestão de frotas de veículos, Rodrigo Somogyi, gerente de inovação e sustentabilidade da Ecofrotas, concorda com Biagi. "Não é verdade absoluta a relação de rendimento entre o álcool e a gasolina, em que o primeiro deve custar 70% do segundo", diz ele. Segundo o gerente da Ecofrotas, que opera uma carteira de mais de 6.250 clientes corporativos e é responsável pela administração de 321 mil veículos, essa relação varia de acordo com variáveis, como o tipo de veículo e de terreno percorrido, com o fato de o veículo contar ou não com manutenção adequada e até mesmo com o nível de treinamento do motorista, por exemplo. "Dessa forma, é necessário avaliar o custo por quilômetro rodado com cada combustível para analisar a viabilidade econômica de cada um deles", diz Somogyi.

"O álcool continua a ser vantajoso para o bolso do consumidor na maior parte do ano", lembra o consultor Júlio Maria Borges, da JOB Economia e Planejamento.

Entre os empresários do setor sucroalcooleiro, é comum o argumento de que o carro flex pôs fim à ameaça de desabastecimento de etanol, que volta e meia assombrava os consumidores desde uma grande crise de fornecimento ocorrida em 1989.

Borges destaca ainda que o etanol proporciona benefícios significativos para a economia, ao poupar o dispêndio de divisas com a compra de gasolina ou petróleo. Segundo os cálculos do consultor, considerando-se um consumo interno de etanol em torno de 20 bilhões de litros por ano e um preço médio do barril de petróleo da ordem de US$ 85, o Brasil poupa cerca de US$ 10 bilhões por ano com a importação de petróleo ou de gasolina.

O presidente da Maubisa explica que o pico de preços foi resultado da própria relação com os preços da gasolina, que se mantiveram congelados nos últimos anos. "O valor da gasolina não subiu nos últimos 6 anos, estivesse o barril do petróleo custando US$ 30 ou US$ 80. Se não há produção é porque o produto não oferece resultados econômicos", diz ele.

Borges avalia que os problemas de preços na entressafra, que no passado foram atribuídos à falta de uma política que viabilizasse estoques de passagem de uma safra para outra, nos últimos dois anos tiveram uma causa diferente. "Simplesmente não havia álcool", diz. A escassez, segundo ele, se deve ao fato de a produção de etanol estar restrita devido à dificuldades conjunturais vividas pelas usinas. Desde 2007/2008, diz ele, os preços do etanol e do açúcar apresentaram queda. Em 2008, os preços do petróleo, que chegaram a US$ 148 o barril em junho, haviam despencado para US$ 35 em dezembro. "A atratividade para investimentos desapareceu então."

Valor Econômico