Pular para conteúdo principal
Ir para pagina inicial

Notícias

Por
em

Queda da renda empurra mais gente para o mercado e eleva o desemprego

A rápida queda da renda domiciliar per capita nos últimos meses, de quase 6% desde novembro, fez com que mais pessoas voltassem a procurar um emprego, de acordo com dados da Pesquisa Mensal do Emprego (PME) do IBGE. Como o mercado de trabalho está desaquecido, a dificuldade para achar uma vaga levou a desocupação a subir para 6,4% nas seis principais regiões metropolitanas em abril, alta de 1,5 ponto percentual em relação a igual período de 2014.

Mesmo aqueles que conseguem ocupação encontram condições mais precárias de trabalho. O estoque de postos com carteira assinada caiu 1,9% no mês passado, enquanto o contingente ocupado no serviço doméstico subiu 1,82%, revertendo tendência de redução desde 2010.

A ocupação como um todo caiu 0,7% em abril na comparação com o mesmo mês de 2014. Ao mesmo tempo, a População Economicamente Ativa (PEA) aumentou 0,9%. Sem oferta de vagas para acomodar essas pessoas, o número de desocupados subiu 32,7% na comparação.

Segundo a técnica do IBGE Adriana Beringuy, essa foi a maior variação percentual da população desocupada em toda a série histórica, que começa em 2002. Entre abril de 2014 e o mesmo mês deste ano, 384 mil pessoas entraram nesse grupo.

Para Emerson Marçal, Coordenador do Centro de Macroeconomia Aplicada (Cemap) da Fundação Getulio Vargas de São Paulo, o aumento do número de desempregados é preocupante porque reflete o desaquecimento da atividade econômica e sugere mais esfriamento da economia depois de um primeiro trimestre bastante fraco. “O número de vagas que está sendo cortado é relevante e, por enquanto, não há sinais de que esse ajuste esteja no fim”, diz.

Para Fábio Romão, economista da LCA Consultores, o aumento das demissões e a queda da renda real, de 2,9% no período, estão “empurrando” quem estava fora do mercado de trabalho a voltar a procurar uma vaga para complementar o rendimento da família.

As condições atuais do mercado de trabalho também estão provocando mudanças na qualidade dos empregos ofertados, reforçando o deslocamento de vagas dos setores mais produtivos para os menos. A população ocupada na indústria encolheu 6% entre janeiro e abril deste ano ante igual período de 2014, enquanto, na construção, 4% das vagas foram cortadas. “Quem saiu da indústria tenta se recolocar no mesmo setor, mas nem sempre consegue e passa a procurar no comércio, por exemplo”, comenta o economista.

Nesse ramo de atividade, a ocupação, que havia encolhido 0,6% nos primeiros quatro meses de 2014, subiu 0,5% em igual período de 2015. No setor de serviços, a ocupação ficou praticamente estável no período, ao passar de um aumento de 0,8% para alta de 0,7%.

Um dado que chama atenção, diz Romão, e denota a precarização crescente do mercado de trabalho, é o aumento da população empregada em serviços domésticos. Desde 2011, esse contingente vinha encolhendo, mas entre janeiro e abril deste ano, as pessoas ocupadas por esse serviço aumentaram 3,7%. “A impressão que temos é que aquela pessoa que estava trabalhando no comércio, porque havia conseguido deixar o serviço doméstico, agora volta, por falta de opção”, comenta.

Também tem caído o número de trabalhadores com carteira assinada, outro sinal de que, com a dificuldade em conseguir emprego formal, as pessoas têm aceitado “bicos”. Em abril, a formalização caiu 1,9%.

Para José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, além da redução do emprego formal, sinal evidente de deterioração do mercado de trabalho, a desaceleração mostrada pelas “Outras atividades” também indica que a piora é generalizada. Os empregados pelo segmento caíram 16,7% em abril. “Isso só aconteceu na recessão de 2009. A piora está difundida entre os vários setores da economia”, diz Gonçalves, até porque o comércio e os serviços ainda devem refletir a desaceleração mais recente da renda. A massa de renda real habitualmente recebida caiu 3,8% em abril.

Para o Bradesco, os sinais evidentes de enfraquecimento do mercado de trabalho têm como contrapartida a perspectiva de arrefecimento da inflação de serviços nos trimestres à frente. Não apenas a renda real caiu por causa da inflação de mais de 8% acumulada em 12 meses, mas há evidências de perda de força da renda nominal. No mês passado, esse indicador subiu 5,4% na comparação com abril de 2014, reforçando a desaceleração ocorrida desde janeiro, quando a alta havia sido de 9,3%. Para o banco, a moderação do rendimento deve se traduzir em menor pressão nos preços de serviços.

Para Gonçalves, a relação não é, necessariamente, tão direta. “A resistência de preços nesse setor é muito grande e nem sempre uma queda na quantidade consumida se traduz em redução de preço”. Nos serviços, sobretudo nos de maior poder de mercado, é possível que alguns empreendimentos não sobrevivam, mas os preços continuem altos”, diz.

Valor Econômico