Açúcar encarece álcool do carro

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Os preços do álcool e da gasolina estão em alta no Brasil. O álcool hidratado — usado como combustível — vendido pelos produtores aos distribuidores já aumentou 20,5% nas últimas quatro semanas. A explicação não está na disparada do petróleo, pressionado por causa dos conflitos na Líbia. Além de estarmos no período de entressafra, são as cotações atraentes do açúcar no mercado internacional que levam os produtores de cana brasileiros a optarem pela produção dessa commodity, o que diminui a oferta interna do álcool. O consumidor, que pagará por isso nas bombas, precisa ficar atento. Em alguns casos, o litro do álcool já está custando o mesmo que o da gasolina.


O Sindicato Nacional do Comércio de Combustíveis (Sindicom) destacou que as distribuidoras ainda não fizeram o repasse para os postos da maior parte dos aumentos feitos pelos usineiros. O aumento médio do álcool nos postos em São Paulo foi de 6,1% nas últimas quatro semanas, enquanto no Rio foi de 2,4%. Ou seja, o consumidor pode se preparar para novos aumentos de preços, não só para o álcool, como também para a gasolina, que tem 25% do produto em sua mistura.


— Desde a semana passada, as distribuidoras no Rio já aumentaram muito os preços do álcool. Teve aumentos de R$ 0,13 até R$ 0,16 por litro de uma vez só. É impossível absorver esse aumento sem repassar para a bomba — destacou Manoel Fonseca, presidente do Sindicomb, sindicato que reúne os postos no município do Rio.


Postos: menos álcool na gasolina


Para evitar uma possível falta de álcool no mercado, a Federação Nacional do Comércio Varejista de Combustíveis (Fecombustíveis) vai solicitar ao governo a redução do percentual de álcool na gasolina de 25% para 10%. No ano passado, o governo reduziu o percentual de fevereiro a maio. Uma redução de cinco pontos percentuais de álcool anidro na gasolina representa economia de 100 milhões de litros de álcool por mês. O presidente da Fecombustíveis, Paulo Miranda, disse que o pedido de redução do percentual de álcool na gasolina será feito pela revenda na próxima semana em reunião com a Agência Nacional do Petróleo (ANP).


— Estamos preocupados com a possibilidade de faltar álcool no mercado, porque a moagem da cana, que começaria ainda este mês, deve atrasar. Além disso, os preços do açúcar no mercado internacional estão em cerca de US$ 800 a tonelada, os maiores preços dos últimos 50 anos — destacou Miranda.


Segundo ele, os preços do álcool já estão em torno de 80% do preço da gasolina. Isso faz com que não seja atraente para o consumidor, já que o álcool apresenta menor rendimento. O álcool só é vantajoso se custar até 70% do preço da gasolina.


De acordo com dados do Sindicom, na última semana, os produtores venderam o álcool hidratado a R$ 1,341 o litro (sem impostos), contra R$ 1,113 na semana de 30 de janeiro a 5 de fevereiro. Isso representa um aumento de 20,5%. Só na semana passada, os preços do álcool hidratado tiveram um aumento de R$ 0,10 por litro. No Estado do Rio, a alta para os postos foi de 2,4%, em média, passando de R$ 2,045 o litro para R$ 2,095 o litro. Já em São Paulo, o aumento repassado para a revenda foi da ordem de 6,2%, segundo dados das distribuidoras.


Uma fonte do setor de distribuição informou que os produtores estariam reajustando fortemente seus preços justamente para inibir a demanda e evitar a falta do produto até o início da safra, que começa em abril.


Até a semana passada, os repasses de preços para as bombas não tinham sido muito elevados. Segundo dados pesquisados pela ANP, o álcool nas bombas do município do Rio também aumentou em torno de 2,3% nas últimas quatro semanas, passando de R$ 2,052 o litro para R$ 2,101. Já a gasolina, no mesmo período, teve um reajuste médio de apenas 0,37%, passando de R$ 2,662 o litro para R$ 2,671 na semana passada nos postos da capital.


— Os preços nas bombas ainda não contemplam todos os aumentos de preços dos produtores de álcool — destacou Dietmar Schupp, diretor do Sindicom.


A funcionária pública Laura Jane já substituiu o álcool pela gasolina, justamente pelo forte aumento do combustível. Ela, que sempre compara os preços, abastece entre a Penha e a Praça da Bandeira.


— Meu carro é bicombustível. Sempre uso álcool, mas agora, como não está valendo a pena, passei a optar pela gasolina. Nesse posto em que estou abastecendo, na Praça da Bandeira, já senti um aumento na gasolina. Lembro que, recentemente, abasteci por R$ 2,69 o litro. Agora, está a R$ 2,72 — disse Laura.


Consumidor precisa fazer pesquisa


A mesma avaliação tem o comerciante Pedro Ricardo Ferreira. Ele, que mora em Ipanema, só abastece entre os postos da Zona Norte, por considerar os preços mais em conta. O comerciante memoriza os valores e não perde tempo em fazer as contas:


— Semana passada, antes do carnaval, coloquei R$ 20 de gasolina, o que rendeu 7,4 litros. Esta semana, pelo mesmo valor, consegui apenas 6,78 litros. Os preços estão aumentando muito. Em alguns casos, as variações são centavos, mas no fim do mês, é possível ver o quanto isso pesa no orçamento.


Levantamento feito pelo GLOBO em 15 postos de combustíveis entre bairros das zonas Oeste, Norte e Sul revelou que os preços do litro da gasolina aditivada já ultrapassam os R$ 3. A gasolina Premium, no posto Barramar, da BR Distribuidora, na Avenida das Américas, na Barra da Tijuca, sai a R$ 3,288. Em outro posto da distribuidora, na Praça da Bandeira, o mesmo tipo de gasolina custa R$ 3,299. No Posto Pombal, da BR, na Tijuca, sai a R$ 3,3 o litro. Com a tendência de alta, é preciso pesquisar os preços. Em postos da cidade, o álcool varia de R$ 2,099 a R$ 2,499. O valor mais alto foi exatamente o mesmo encontrado para a gasolina mais barata. No levantamento do GLOBO, o preço máximo da gasolina foi de R$ 2,949.


— Outro dia, fiz uma pesquisa de preços. Notei que, em todos os casos, o álcool tinha subido fortemente. E, ao mesmo tempo, esses mesmos postos elevaram dias depois os preços da gasolina. Ou seja, estou com a renda cada vez mais apertada. O gerente do posto onde costumo abastecer no Méier já me disse que irá aumentar os preços no fim do mês porque o distribuidor andou dizendo que os custos estão elevados — disse Fernanda Guimarães, que abastecia o seu carro ontem de tarde na Lagoa Rodrigo de Freitas, na Zona Sul do Rio.

O Globo