Agronegócio ainda puxa a venda de carros no interior

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A Grande São Paulo e o norte do Mato Grosso têm no mercado de veículos posições tão distantes quanto os cerca de 2 mil km que separam São Paulo e Sorriso, as principais cidades das regiões. Enquanto a primeira concentra o maior mercado do país, com 534 mil carros licenciados somente em 2013, as vendas em Sorriso pouco co passam de 3% desse volume.
 
Contudo, as posições se invertem quando se olha o desempenho de cada uma. São Paulo foi a região do país onde as vendas mais caíram, com 23 mil carros a menos do que em 2012. Já o norte mato-grossense está entre as regiões do país com maior evolução na compra de veículos. A venda de carros de passeio e utilitários leves na região subiram 14,1%, ou 2 mil unidades a mais que um ano antes.
 
No todo, o mercado nacional apresentou queda de 1,5% no ano.
 
A diferença dos números de São Paulo, maior PIB, e do norte do Mato Grosso, maior produtor de soja do Brasil, mostra que, apesar da retração da demanda por veículos na maior parte do país, os bons resultados do agronegócio seguem puxando a procura no interior do país. Levantamento da Escopo - consultoria que ajuda as montadoras no mapeamento de mercados com maior potencial de expansão - revela que 25 entre 137 grandes regiões brasileiras conseguiram manter-se em crescimento quando o mercado entrou em trajetória de queda no segundo semestre.
 
Além do norte de Mato Grosso, fazem parte do grupo a região de Bauru, no interior paulista, o sul e o oeste de Santa Catarina, o noroeste paranaense e o sudeste do Rio Grande do Sul, assim como o noroeste goiano e o agreste da Paraíba. Somando os resultados do primeiro semestre, outras regiões, como o sul de Goiás e o centro-sul mato-grossense, também fecharam 2013 com saldo positivo.
 
Grandes capitais - como Rio de Janeiro, Salvador e Recife, além de São Paulo - foram as maiores responsáveis pelo resultado negativo em 2013. Na região metropolitana do Rio, foram vendidos 12 mil carros a menos no ano passado, enquanto em Salvador e Recife a retração foi de 5,7 mil e 4,4 mil unidades, respectivamente.
 
Não é difícil entender por que isso acontece. Quanto maior o mercado, maior é o nível de motorização já atingido por sua população. Consequentemente, menor é o potencial de novos consumidores chegarem a esse mercado.
 
Em São Paulo, por exemplo, a média de motorização é de um carro a cada dois habitantes, enquanto no Nordeste a relação é de um veículo a cada onze moradores - ou seja, muita gente ainda não tem automóvel.
 
Nos últimos anos, esse potencial de consumo ganhou impulso com as safras recorde de grãos em regiões agrícolas, junto com o maior dinamismo econômico vindo de investimentos em infraestrutura e programas de transferência de renda.
 
Para a Escopo, isso não significa que a demanda nas grandes capitais chegou a um ponto de esgotamento, até por que os consumidores dessas cidades também vão, em algum momento, trocar de carro. Mas a interiorização do consumo impõe às montadoras o desafio de ampliar a capilaridade de suas redes de concessionárias para se chegar a pontos cada vez mais distantes.
 
"As montadoras precisam pensar fora da caixa, olhar para o que está acontecendo além das regiões metropolitanas", diz Geraldo Ferreira, diretor executivo da Escopo. "Se as montadoras, principalmente as médias e pequenas, tivessem centrado esforços de distribuição, vendas e comunicação nas áreas de oportunidade, poderíamos ter até melhorado o volume total de emplacamentos no ano passado", acrescenta.
 
Pressionadas pelo avanço da concorrência no varejo em grandes centros, as fabricantes de carros mais antigas do Brasil - Fiat, Volkswagen, General Motors e Ford - pegaram a estrada para o interior há algum tempo. Por isso, têm conseguido aproveitar melhor o crescimento desses mercados. Segundo o levantamento da Escopo, a participação das veteranas nas regiões em expansão do país passa de 72%, mais de 7 pontos percentuais acima do percentual registrado nos demais mercados. Na média nacional, a fatia das quatro grandes, diante da competição cada vez mais agressiva das marcas asiáticas, já caiu para abaixo dos 70%.
 
Por sua vez, os grupos automobilísticos que vieram ao país na década de 90, como Renault e Honda, estão se deslocando a mercados menores após consolidar a presença obrigatória nas grandes cidades. O plano da Renault é chegar a 100 novas cidades até 2017, sendo metade delas no Nordeste e no Centro-Oeste. Se tudo sair como a montadora francesa planeja, a Renault chegará a 400 concessionárias no país nos próximos quatro anos, o que lhe permitirá cobrir 93% do território brasileiro.
 
Números da Anfavea, a entidade que representa as montadoras instaladas no país, mostram que mais de mil revendas foram abertas no Brasil entre 2007 e 2012. Essa evolução, contudo, foi mais concentrada no Sudeste, que recebeu 452 novas lojas no período. Outras 236 concessionárias foram abertas no Sul.
 
No Nordeste, 151 lojas entraram em operação nesses seis anos, enquanto no Centro-Oeste o avanço foi de 123 pontos de venda. Outras 75 revendas foram inauguradas no Norte no mesmo período. No total, cerca de 4 mil concessionárias de veículos novos funcionam no Brasil, sendo 1,9 mil delas na região Sudeste. Valor Econômico