Alta do álcool nas bombas supera índices de inflação

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O preço do álcool nas bombas dos postos de combustíveis continua em alta. Levantamento divulgado ontem pela Fundação Getulio Vargas (FGV) mostra que a inflação acumulada do derivado de cana chegou a seu mais alto patamar para o mês de junho. Em 12 meses, a álcool anidro, usado na mistura da gasolina, ficou mais caro 46,08% no atacado, mesmo em período de safra. A elevação teve reflexo direto nos valores cobrados para os motoristas nos postos — tanto para quem usa etanol, quanto no caso de que opta por derivado de petróleo.

Para o coordenador de Análises Econômicas da FGV, Salomão Quadros, a atual oferta de cana não consegue atender à crescente demanda por açúcar e etanol. “Os preços deveriam estar caindo nesta época”, argumenta.

O presidente do Sindicato dos Postos de Combustíveis do Rio (Sindcomb-RJ), Manoel Fonseca da Costa, confirma que os valores do etanol se mantiveram no mesmo patamar dos últimos meses. Segundo ele, os donos de postos já recebem o produto caro das distribuidoras. “A média do litro de álcool nas bombas está na casa de R$ 2,15. Recebemos o combustível com preço já determinado. Com isso, as vendas caíram. Os motoristas preferem usar a gasolina, que tem o preço mais em conta”, diz o presidente do Sindcomb.

Preços em alta e oferta menor podem perdurar por pelo menos uma década

O cenário com preços em alta e a queda na oferta de etanol poderá perdurar pela próxima década. A conclusão consta em estudo da consultoria Projeto Brasil Sustentável, especializada no segmento sucroalcooleiro. De acordo com a pesquisa, se forem mantidas as recentes taxas de evolução do setor, nas próximas cinco safras, um déficit de mais de 25% da oferta de etanol em relação à demanda deverá ser criado no País.

Pelo levantamento, a produção anual estimada do produto nos próximos anos será de 780 milhões de toneladas de cana. Mas, para atender plenamente ao mercado, o País deveria produzir, no mínimo, 980 milhões de toneladas.

Mantido o cenário para 10 safras, a situação piora: em 2021, a oferta de etanol estará 40% menor que a necessidade do mercado. A safra será de 970 milhões de toneladas para um consumo superior a 1,3 bilhão. A cana ocupa cerca de 7 milhões de hectares, que são 2% da terra arável do país, de acordo com a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).

De lupa

DEFLAÇÃO MENOR — A deflação enfraqueceu segundo o IPC-S. O indicador recuou de -0,13%, na apuração até o dia 15, para -0,11% até a quadrissemana encerrada no dia 22.

DÉFICIT DE ÁLCOOL — Nas próximas cinco safras, haverá déficit de mais de 25% da oferta de álcool combustível no País. Atualmente, a produção nacional já não atende ao consumo.

O Dia