Alta do dólar pressiona combustíveis

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A disparada do dólar frente o real fará um estrago cada vez maior no caixa da Petrobras. Apesar de a moeda norte-americana já estar rodando na casa de R$ 2,30, com possibilidade de caminhar até os R$ 2,40 nos próximos meses, o governo decidiu segurar, o quanto puder, o reajuste  dos preços dos combustíveis para não pressionar a inflação.
 
Com o consumo interno de gasolina em alta e sem capacidade de ampliar a produção na velocidade necessária, a estatal vem importando, mês a mês, volumes recordes de combustíveis por valores muito superiores aos que vende no Brasil. Segundo projeções do mercado, a Petrobras estaria arcando com prejuízo de R$ 0,89 por litro de gasolina vendido nos postos. Se os preços fossem ajustados de acordo com o mercado internacional, o consumidor pagaria, hoje, R$ 3,88 por litro ante os atuais R$ 2,99. Encher um tanque de um carro popular subiria de R$ 120 para R$ 155,20.
 
Diante da promessa da presidente Dilma Rousseff de manter a inflação até o limite máximo de 6,5% neste ano, pois teme perder ainda mais popularidade, já que a disparada de preços mina a confiança de empresários e consumidores, a Petrobras terá de operar milagres para tocar o seu ambicioso programa de investimentos até 2016, de US$ 236,5 bilhões.
 
“A inflação vem caindo há três meses, chegando a 0,03% em julho. Mas ainda estamos longe de respirar aliviados. Em 12 meses, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) acumula alta de 6,27%. É muito. Então, não podemos mexer nos combustíveis agora, porque o impacto na inflação é grande”, disse um especialista do Ministério da Fazenda.
 
Pelas contas de integrantes da equipe econômica, se o governo zerasse toda a defasagem dos preços dos combustíveis, o IPCA fecharia 2013 entre 6,6% e 6,8% — acima do teto da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) — e não abaixo dos 5,84% de 2012, conforme promessa do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini.
 
“Quando a gasolina e o diesel ficam mais caros, o frete de alimentos sobe, assim como outros itens que sofrem influência do derivado do petróleo. Os aumentos são sempre repassados ao consumidor”, ressaltou o mesmo especialista da Fazenda, lembrando que, nem com a Cide, o imposto sobre combustíveis, o governo pode contar mais, já que foi zerado para compensar reajustes anteriores.
 
Desastre
 
Nos cálculos de André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, se a Petrobras corrigisse a gasolina e a equiparasse aos preços internacionais, “seria um desastre para o IPCA”. “Supondo que mais nada subisse em agosto e o combustível fosse reajustado em 30%, a inflação do mês seria de 1,23%”, ponderou. “Por isso não há a menor chance de o governo corrigir isso agora. A Petrobras vai continuar no prejuízo”, sentenciou. Na semana passada, em reunião de analistas com o secretário de Política Econômica da Fazenda, Márcio Holland, da qual Perfeito participou, uma das cobranças feitas ao governo foi a correção dos valores dos combustíveis.
 
Mansueto Almeida, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), explicou que a gasolina vendida no Brasil está 30% mais barata que no exterior. No caso do diesel, a defasagem chega a 28%. Ele destacou que a Petrobras está perdendo duas vezes. Além de vender a produção por um valor inferior ao que poderia ser obtido no mercado externo, tem prejuízo na importação de gasolina. 
 
“Tudo isso pode atrapalhar os investimentos no pré-sal. A Petrobras está obrigada a arcar com 30% deles”, disse Almeida. “Isso significa que a Petrobras bancará essa bondade (preço de gasolina mais baixo) com prejuízo na distribuição”, emendou. De janeiro a julho deste ano, a importação de petróleo e derivados chegou US$ 21,3 bilhões — valor já descontado os US$ 4,5 bilhões de compras feitas em 2012 e registradas apenas neste ano. 
 
Um técnico da petroleira afirmou que o dólar tem deixado a companhia em estado de alerta. A empresa, de acordo com ele, trabalhava com um dólar máximo de R$ 2,25 para o ano. “O problema é que a moeda já bateu em R$ 2,30 e estourou esse nosso limite”, disse. Não à toa, o mercado espera que a Petrobras divulgue hoje lucro líquido entre R$ 3 bilhões e R$ 5 bilhões no segundo trimestre, inferior aos ganhos de R$ 7,7 bilhões entre janeiro e março. Poderia ser pior. Se não tivesse mudado as regras para o seu balanço, diluindo o impacto do dólar ao longo de sete anos, a estatal teria prejuízos de abril a junho, como ocorreu em igual período de 2012.
 
Ontem, o BC interveio no mercado de câmbio para segurar o dólar, vendendo US$ 630,9 milhões. Ajudada pelas boas notícias vindas da China, a autoridade monetária conseguiu garantir queda de 1,17%, com a moeda norte-americana cotada a R$ 2,286 para venda. “A tendência, no entanto, continua sendo de alta do dólar, esse movimento de recuo é pontual”, constatou Sidnei Nehme, diretor executivo da NGO Corretora. Correio Braziliense  09/08/2013