Analistas veem piora em expectativa de inflação

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O Boletim Focus, do Banco Central (BC), alimentado pelas previsões de analistas de mercado, apresentou forte piora nas expectativas de inflação desta semana, repercutindo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do mês passado que fechou em 0,15%, taxa que ficou acima da esperada.

A mediana das projeções para este ano subiu de 6,15%, na semana passada, para 6,31% no documento dessa segunda-feira. Para o próximo ano, as apostas para o indicador oficial do sistema de metas subiram de 5,1% para 5,2%, também acima do centro da meta de 4,5%.

O ajuste nas expectativas se deve a uma elevação na perspectiva de inflação no próximo mês. A projeção para julho passou de 0,16% para 0,2%. A mudança decorre de um IPCA pior do que o esperado em junho, com aceleração dos preços de bens duráveis e de serviços. A alta foi de 0,15%, com variação acumulada em 12 meses de 6,71%, acima dos 6,55% até maio.

Nesse cenário mais difícil para a autoridade monetária, os economistas também ajustaram para cima a previsão para a taxa Selic no fim deste ano e agora já esperam duas altas da taxa de juros nas próximas duas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom), a primeira delas no dia 20. O juro básico subiria, então, para 12,75% ao ano. Esse nível permaneceria até praticamente o fim do próximo ano (12,5% ao ano).

Há quem acredite, no entanto, em um ciclo ainda mais longo. Para a equipe econômica do Banco Santander, o Banco Central ainda deve promover três elevações da taxa básica, fechando o ano em 13%.

Os economistas do Banco Fibra, Maristella Ansanelli e Carlos Lopes, também avaliam a possibilidade de aceleração dos juros, já que o processo de acomodação da demanda doméstica tem ocorrido em ritmo bastante lento. "Ainda que o Banco Central deva perseguir essa estratégia por mais duas reuniões, dada a sinalização de sua comunicação recente, questionamos se uma aceleração no ritmo de alta dos juros já não deve começar a ser discutida", dizem.

O aperto monetário deve promover uma desaceleração da economia, que levaria o Produto Interno Bruto (PIB) a uma expansão da ordem de 4% neste ano e no próximo, de acordo com o Focus, nível mantido inalterado pelos economistas. A projeção para a taxa de câmbio também não sofreu alteração, ficando estimada em R$ 1,6 para o fim de 2011.

Para o Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco a evolução de preços no atacado e ao produtor deverá diminuir a pressão sobre a inflação ao consumidor nos próximos meses, que poderia convergir para níveis próximos a 4,5% no próximo ano, caso se confirme a hipótese de ausência de novos choques nos preços de commodities em moeda local e de arrefecimento da atividade econômica.

O banco ressalta, no entanto, os riscos no mercado de trabalho, ainda muito aquecido. "Vale ressaltar que a velocidade da convergência da inflação para o centro da meta dependerá dos desenvolvimentos do mercado de trabalho, que, aquecido, se apresenta como maior risco para nosso cenário prospectivo", dizem os economistas do Bradesco, em relatório.

Valor Econômico