Após lucro menor, Petrobras pede reajuste da gasolina

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Depois que a Petrobras registrou queda de 30% no lucro do primeiro trimestre, com ganhos de R$ 5,39 bilhões, a presidente da estatal, Maria das Graças Foster, defendeu ontem a necessidade de novo reajuste de combustíveis ainda neste ano, um tema polêmico, que já colocou Petrobras e governo em lados opostos. Segundo Graça, apenas com um reajuste a estatal terá condições de iniciar 2015 em situação financeira mais confortável. Ao apresentar os resultados da empresa a analistas e investidores, Graça Foster garantiu que a Petrobras cumprirá a meta de aumento da produção em 7,5% até dezembro. As ações preferenciais da estatal (sem voto) subiram 1,86%, a R$ 18. As ordinárias (com voto) avançaram 2,52%, a R$ 17,08. Além dos resultados, a expectativa de divulgação de pesquisa eleitoral que mostraria queda nas intenções de voto na presidente Dilma Rousseff animou investidores. Segundo analistas, a avaliação é que uma mudança na política econômica favoreceria a estatal. A Bovespa fechou em alta de 1,79%, aos 54.052 pontos. Na semana passada, a presidente Dilma Rousseff afirmou, em jantar com jornalistas, que não há “lei divina” que garanta que a gasolina no Brasil deve flutuar de acordo com a mercado internacional e questionou a defasagem, citada por especialistas: “Defasagem da gasolina? Me mostra a conta”. Segundo cálculos de Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, a diferença de preços para a gasolina chega a 17% e no diesel, a 15%. REPOSIÇÃO DE 60% DAS VAGAS DO PDV Ontem, Graça garantiu que, em 2015, a estatal apresentará fluxo de caixa positivo, com a redução do nível de endividamento, aumento na produção e alinhamento dos preços da gasolina e do diesel com as cotações do mercado internacional. — Nossa conversa com o conselho (de administração) é permanente, sistemática e padronizada. Temos desafios de produzir, fazer investimentos, controlar o capex (investimento em bens de capital) e, quando você tem defasagem de preços, como nós temos, temos que corrigir. Hoje, a orientação do Conselho é não repassar a volatilidade (internacional) para o mercado, e que a gente faça as correções sem repassar essa volatilidade. O fato é que o real ficou menos depreciado no trimestre, e isso nos trouxe mais próximos para a convergência de preço. Diminuiu essa distância. Mas enquanto perdura, não há paridade plena. Nós temos que estar considerando um aumento de preços, e isso tem sido mostrado. Temos um limite de tempo para fazer, para que a gente possa passar para o ano de 2015 numa condição melhor — destacou Graça Foster. No fim de novembro, a Petrobras anunciou a criação de nova política de reajuste de preços de combustíveis, após meses de declarações divergentes entre a estatal e o governo. Apesar de não detalhar a fórmula, a empresa garantiu que em 24 meses reduziria os níveis de endividamento, em linha com o seu plano de negócios. Ontem, Graça disse que o plano tem que “acontecer conforme o planejado”: — Com a produção, os investimentos e os preços programados, e o câmbio entre R$ 2,10 e R$ 2,23, nós teremos fluxo de caixa positivo a partir de 2015. Perguntado sobre a investigação aberta pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), para averiguar porque a estatal não teria divulgado corretamente ao mercado a criação de mecanismo para reajuste de combustível, Almir Barbassa, diretor de Relações com Investidores, disse que não comentaria o caso: — O processo sancionador está em andamento, prefiro não comentar. Está em fase de recurso — disse, ressaltando que está longe de ser proposto acordo. Graça lembrou que a Petrobras vai diminuir nos próximos meses a relação entre a dívida líquida e a geração de caixa operacional, que ficou em quatro vezes no primeiro trimestre deste ano, número maior que os 3,5 vezes do trimestre anterior. — Temos que virar de 2014 para 2015 numa posição de companhia muito melhor. Essa é nossa obrigação — disse ela. Graça disse ainda que o provisionamento de R$ 2,4 bilhões com o PDV foi o principal impacto negativo no primeiro trimestre. No fim de semana, a companhia destacou, em anúncios nos principais jornais do país, que seu lucro líquido teria sido de R$ 7 bilhões não fossem as despesas com o PDV. Por outro lado, Graça destacou que o PDV permitirá economias de R$ 13 bilhões entre 2014 e 2018 e que 60% das 8,2 mil demissões serão repostas: — O programa é oportuno para atender a redução de custos. Para repor esse funcionários, serão feitos novos concursos. Pedro Galdi, analista da SLW, disse que a indicação de novos reajustes de derivados feita pela executiva, as reduções nos custos com o PDV e a previsão de queda no endividamento foram bem recebidas. — As afirmações foram positivas, já que o resultado da companhia veio em linha com as projeções — disse Galdi. Apesar de a produção de petróleo no Brasil ter caído cerca de 2% no primeiro trimestre, em relação ao trimestre anterior, Graça disse que a produção crescerá conforme o planejado, após ser questionada por analistas, que cobraram detalhes sobre novas unidades que entrarão em operação. Graça anunciou o início da produção da plataforma P-62 no Campo de Roncador, na Bacia de Campos. Lembrou ainda que vão entrar em operação mais quatro unidades até dezembro. — A produção crescer 7,5% é difícil, mas dá para chegar — afirmou Claudio Duhau, analista da corretora Ativa. A executiva destacou que não vai reduzir os investimentos, pois já estão comprometidos com projetos até 2018. Neste ano, eles somam US$ 40 bilhões. Graça listou novos projetos de refino, como a segunda unidade de Abreu e Lima, em Pernambuco, prevista para 2015. O diretor de Abastecimento da estatal, José Cosenza, detalhou o cronograma para a refinaria Premium I, no Maranhão, com capacidade para processar 600 mil barris diários. Como o edital das obras físicas já está no mercado, as obras devem começar no início de 2015. A estatal espera fechar parceria com a chinesa Sinopec para a unidade até dezembro: — Fizemos trabalho de simplificação importante da instalação. Os valores que vocês estão vendo nos jornais (de cerca de R$ 1,6 bilhão) são atribuídos ao projeto de terraplanagem e ao projeto básico. O Globo