Ataques à Líbia devem levar petróleo a nova alta

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Os ataques das forças internacionais de coalização à Líbia devem pressionar ainda mais os preços do petróleo a curto prazo, na avaliação de especialistas. Apesar de a produção no país — que tem a nona maior reserva de petróleo do mundo e é um dos principais fornecedores da Europa — já estar parcialmente paralisada, a perspectiva de que instalações da indústria petrolífera sejam danificadas deverá levar as cotações da commodity, que já subiram cerca de 20% este ano, a novas altas. E, assim, trazer mais incertezas à economia mundial, já combalida pela crise nos países ricos e, mais recentemente, pela tragédia do terremoto, tsunami e acidente nuclear no Japão.


Nesta segunda-feira, os contratos futuros do petróleo do tipo leve americano já abriram em alta de mais de 2%, acompanhando o início das operações do mercado asiático.


— Esses bombardeios vão provocar volatilidade nos preços do petróleo a curto prazo. A produção na Líbia tende a quase zerar, e pelo menos esta semana os preços devem subir — afirma o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, Adriano Pires.


Na sexta-feira passada, o barril do petróleo do tipo Brent, referência internacional, fechou a US$ 113,93 em Londres. Diante do acirramento do conflito na Líbia, no entanto, analistas acreditam que o preço pode voltar a bater a máxima de US$ 119,79, alcançada durante as negociações de 23 de fevereiro, o maior nível em dois anos e meio, ou seja, desde antes do agravamento da crise financeira internacional, em setembro de 2008. Em março, os preços do petróleo subiram só 2%, limitados pela expectativa de menor demanda da economia japonesa.


Para Adriano Pires, o impacto dos ataques no preço do petróleo a longo prazo, no entanto, vai depender de sua duração. Quanto maior for a resistência do governo líbio, mais os preços tendem a subir.


Analista: decisão da ONU pode incentivar rebeliões


E os ataques à Líbia podem ter outros desdobramentos para a economia mundial, diz a estrategista da Ativa Corretora, Mônica Araújo:


— É mais um conflito armado, envolvendo vários países, incluindo os desenvolvidos, que estão com a economia enfraquecida e estarão menos voltados para sua recuperação. Isso pode ter vários desdobramentos e mexe com a confiança — destaca Mônica.


O maior risco, no entanto, é se os conflitos chegarem a outros países do Oriente Médio. O contágio de nações com mais peso no mercado de petróleo, como a Arábia Saudita, é que pode trazer impactos mais fortes para o crescimento da economia mundial.


— O único risco para a economia mundial é se os conflitos chegarem à Arábia Saudita. Mesmo com a tragédia do Japão, as projeções para o crescimento este ano não foram revistas, e a economia mundial deve crescer em torno de 4% — diz o ex-presidente do Banco Central (BC) e diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas, Carlos Langoni.


Segundo ele, os conflitos ainda se concentram em países periféricos da região e, mesmo com os bombardeios, o preço do petróleo tende a se sustentar pouco acima dos US$ 100. Para Mônica Araújo, a possibilidade de novos levantes populares na região tende a ser maior após o apoio da ONU aos ataques à Líbia.


— O grande impacto (dos ataques) é que pode incentivar as rebeliões em outros países, com produção mais relevante — concorda Adriano Pires.


(*) Com agências internacionais

O Globo