“Crescimento da gasolina ameaça retomada do etanol em 2021”
Devido aos bons preços do açúcar, o mix deverá continuar açucareiro na próxima safra, estima o diretor da Bioagência, Tarcilo Rodrigues. Embora seja um bom negócio para as usinas, até porque muitas já fixaram a produção do próximo ciclo, a demanda de etanol não deverá ser atendida pela falta do produto e a participação do biocombustível no ciclo Otto deverá cair.
De acordo com as projeções da agência, a temporada atual deverá encerrar com 597 milhões de toneladas; ATR de 142,3; 37,56 milhões de açúcar; 26,78 bilhões de litros de etanol e 2,5 bilhões de etanol de milho, totalizando 29,267 bilhões de etanol. “Vamos tirar do mercado 4 milhões de litros de etanol em comparação à safra anterior, quando produzimos 33,2 bilhões de litros”, disse o diretor, que participou da 2ª Reunião da Canaplan 2020, realizada no final de outubro.
Rodrigues ressaltou que a estimativa é que a demanda volte ao patamar de 2019, com a normalização das atividades. Além disso, podem até ser impulsionadas pela nova ótica sobre os renováveis, que ganharam força a partir da Covid-19. Assim, é fato que haverá a necessidade da volta da produção desses 4 milhões de litros de etanol.
“Se a quantidade de cana do ano que vem for mais o menos a mesma desta safra, vai ter uma competição entre a produção do açúcar e etanol e, por enquanto, quem está levando vantagem é o açúcar”, explicou, mesmo com os preços do etanol em patamares considerados até altos em comparação a anos anteriores.
O diretor da Bioagência lembrou ainda que a queda no consumo de etanol registrada no início da pandemia, em abril, de 29,9%, passou para 1,9%, em setembro, o que representa uma recuperação significativa. No caso do hidratado, a queda foi mais acentuada e chegou a 33%, e agora, é de 9,2% em relação ao ano passado. Mas, devido à oferta de etanol ser limitada, não será possível recuperar essa demanda até o final da safra.
Neste contexto, o mercado de etanol em 2021 será bastante “extressado” e a demanda crescente de combustível deverá ser absorvida pela gasolina, esta por sua vez, precisará de mais anidro.
“O que já pode ser visto agora, pois a demanda de gasolina caiu 28,5% em abril, e em setembro já é 1,2% acima da demanda de setembro de 2019, ou seja, se vamos ter que continuar deixando o etanol 10% abaixo e a demanda de ciclo Otto cresce, nós vamos ver a gasolina este ano ultrapassar a demanda de gasolina de 2019”, explicou.
A perspectiva de maior consumo pode ser medida pelo movimento das rodovias que já está praticamente com o mesmo fluxo que antes da pandemia, sendo o crescimento de setembro sobre agosto, de 6,1% para veículos leves e 2,7% para veículos pesados. “É uma recuperação significativa”, disse o diretor.
Uma alternativa apontada pelo diretor da Bioagência para atender à demanda seria o etanol de milho, que vem crescendo no país. Mas também há ponderações, pois tem limitação de tancagem e os preços da matéria-prima estão muito acima dos níveis históricos. Quanto a importação de etanol, outra alternativa a ser considerada, está reduzida, com a volta da tarifa de 20% sobre toda a carga importada. “Fecharam a arbitragem”, concluiu.