Crise no etanol provoca reestruturação na Unica
Principal entidade do setor produtivo de cana, etanol e açúcar, a União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica) prepara a maior reestruturação interna em seus 17 anos de existência.
Com uma das piores crises setor sucroalcooleiro, a Unica deve reduzir em mais da metade o orçamento anual. Ele já foi de R$ 40 milhões, está em torno de R$ 23 milhões e irá para pouco mais de R$ 10 milhões. Consequentemente, haverá uma redefinição da agenda, da atribuição e do quadro funcional.
No próximo dia 20 de maio, na reunião que deve alçar o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues à presidência do conselho deliberativo da Unica, representantes das cerca de 120 usinas associadas avaliarão, ain-da, a redução na contribuição das empresas e o corte orçamentário. As medidas tentam deter a debandada de associados, preservar usinas em dificuldades, hoje insatisfeitas com o valor cobrado e, no futuro, a atrair novas empresas ou o retorno das dissidentes. “A questão principal não é quem fica ou quem sai, mas qual será a agenda da Unica e a quais atividades vai se dedicar com outro orçamento”, disse uma representante da associação ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado.
A diretora presidente da Unica, Elizabeth Farina, confirmou que a reestruturação, iniciada timidamente em março com o fechamento do escritório em Ribeirão Preto (SP), será ampliada por causa das dificuldades do setor sucroalcooleiro. “Algumas usinas não estão tendo geração de caixa suficiente para pagar funcionários nem para manter a associação com a Unica”, econheceu a executiva.
Para o conselheiro da Unica e diretor de Cana-de-Açúcar do Grupo Tereos Internacional, Jacyr Costa Filho, a forte redução nos custos da entidade é uma adaptação à realidade do setor. A política de restrição aos aumentos da gasolina, adotada pelo governo, a consequente perda de competitividade do etanol sobre o combustível de petróleo, bem como a queda no preço do açúcar levaram ao fechamento de dezenas de usinas e outras à recuperação judicial.
Novo discurso. A Unica também mudou o discurso político e o trato com o governo federal. A tradicional postura de cautela foi substituída por contestações e ataques ao governo e a Petrobrás. Na primeira delas, em 15 de abril, a Unica criticou as declarações da presidente da Petrobrás, Graça Foster, de que o setor sucroenergético não ofertava mais etanol por falta de investimentos na produção.
Em nota, a Unica classificou as declarações “artifício de linguagem, utilizado para inverter a ordem dos acontecimentos e justificar os danos causados ao setor sucroenergético” pelo governo federal, controlador da Petrobrás.
O Estado de S. Paulo