De acordo com segmento revendedor, combustível aumentou 12% em 30 dias e perde definitivamente a competitividade
O litro do etanol hidratado está chegando aos postos de Cuiabá e Várzea Grande 12% mais caro neste início deste mês e é o maior preço registrado em 2011 e o terceiro em cinco anos, quando atingiu em 2006, R$ 2,37 e R$ 2,43. Alguns revendedores exibiam ontem o novo valor de bomba que em média passou de R$ 2,09 para R$ 2,29, alta de R$ 0,20 (9,56%) e que liquida com a vantagem econômica do derivado da cana ante a gasolina, pois o teto de 70% está ultrapassado.
Na relação de competitividade entre etanol e gasolina, o preço do primeiro representa agora mais de 76% do valor de bomba da gasolina, R$ 2,29 versus R$ 2,99. Para haver vantagem financeira para o uso do etanol, cuja queima é maior, é necessário que ele tenha até 70% do valor do derivado de petróleo.
De acordo com o Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis de Mato Grosso (Sindipetróleo) a alta se repassada de forma integral, pode elevar o valor do litro para até R$ 2,33, já que o percentual implica em um litro R$ 0,24 mais caro. No entanto, o sindicato afirma que muitos postos estão segurando ao máximo os repasses como forma de manter o nível de vendas, em razão da forte concorrência nas duas cidades. “Há repasses de R$ 0,05 como também de R$ 0,20”, afirma o sindicato.
A entidade conta que usinas e distribuidoras estão repassando o etanol com preços mais altos há alguns dias. Em Cuiabá, o valor de compra do litro do combustível realizado pelos postos junto às distribuidoras está entre R$ 1,91 a R$ 1,95. Há um mês era possível encontrar o litro do etanol nas distribuidoras a R$ 1,71, alta de 12% em 30 dias. As informações constam em notas fiscais de aquisição dos postos da Capital e que o Sindipetróleo teve acesso.
O diretor-executivo da entidade, Nelson Soares, destaca que ainda é possível encontrar o litro do etanol sem os reajustes recentes. “Os revendedores sabem que o etanol potencializa o consumo nos postos ao manter a relação de 70% entre o preço da gasolina e do etanol. Assim, para os revendedores, vale à pena segurar um pouco mais o reajuste, uma forma de atrair o consumidor”, explica o diretor. Conforme o apurado pelo sindicato junto às distribuidoras, os reajustes não devem parar por ai, pois a entressafra da cana-de-açúcar no Estado está só começando. “Os representantes do segmento sabem que o problema está no campo, já que a colheita da cana diminuiu devido ao clima mais seco no segundo semestre do ano passado e durante o último inverno, assim como pela falta de renovação dos canaviais”. A ameaça de novas altas sobre o preço ao consumidor é observada em todo o país. Em quase todas as unidades da Federação, o preço do produto derivado da cana ultrapassa R$ 2 o litro. “Esse é o resultado das perdas na safra e do aumento nas vendas dos veículos flex”, destacou Soares.
USINAS – A safra mato-grossense começou a ser encerrada nas usinas mais cedo neste ano. De maneira inédita, desde meados de outubro importantes plantas, como a Itamarati, concluíram os trabalhos. Pela projeção do Sindicato das Indústrias Sucroalcooleiras de Mato Grosso (Sindalcool), das dez unidades apenas duas atravessaram novembro, Pantanal e ETH Bioenergia, mas com perspectivas de conclusão em poucos dias. De acordo com o diretor executivo do Sindalcool, Jorge dos Santos, os trabalhos no Estado são realizados até o início de dezembro e terminaram mais cedo porque o rendimento dos canaviais foi 5,5% menor do que o esperado, já que a estiagem prejudicou o desenvolvimento da cana.
Mesmo com um ano atípico para o segmento sucroalcooleiro no Estado, Santos frisa que não haverá desabastecimento no mercado local, seja de etanol, seja de açúcar. “Temos um compromisso com a sociedade. Apesar do menor rendimento da produção, a cana moída rendeu a contento e por isso há estoques para atravessarmos a entressafra”. A escassez de produto, especialmente a do etanol hidratado, está descartada, visto que a relação oferta e demanda vai permitir cerca de 200 milhões de litros de folga, reflexo da desaceleração do consumo motivada pelo alto preço do litro ao consumidor.
Conforme o segmento, no ano passado foram consumidos cerca de 416 milhões de litros de hidratado. A previsão é que em 2011 a demanda fique entre 320 e 350 milhões de litros. “Devemos finalizar a safra com uma produção de 540 milhões de litros e diante deste cenário, teremos quase 200 milhões de litros em estoque, quantidade bastante segura para uma temporada atípica”.
2012 – As chuvas atuais estão favorecendo os canaviais que serão colhidos em 2012 e que por conta disso, a safra será antecipada. “Com o bom volume de chuvas, daremos início à temporada 2012 já em março, numa abreviação de um mês em relação a 2011”.
Diário de Cuiabá - 03/12/2011