Débito da MasterCard fica mais caro

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No primeiro Natal com o mercado de cartões aberto e benefícios colhidos pelo varejo com o aumento da competição, uma conta vai ficar, paradoxalmente, mais salgada para os lojistas. A taxa do cartão de débito da MasterCard. Desde 1º de outubro, quando a bandeira passou a definir uma tabela para o intercâmbio - a parcela descontada por transação que vai para os bancos emissores - da modalidade, o caixa dos estabelecimentos ficou mais apertado. Em grandes redes se observa um aumento de até 80%, com a taxa final cobrada pelas credenciadoras subindo de 0,50% para 0,80%. A C&A ensaiou um boicote e ficou quase duas semanas sem receber os cartões de débito da marca, mas em 25 de novembro voltou atrás.

É justamente nas grandes redes que o impacto está sendo sentido porque era nessa segmentação que podia haver algum incentivo no ambiente fechado do mercado de cartões que vigorou até 1º de julho. Até ali, a Redecard era, praticamente, a única rede que capturava os cartões da MasterCard, enquanto imperava a relação de exclusividade da concorrente Cielo com a Visa.

Num momento de acirramento da competição entre as credenciadoras, com mais poder de barganha para o varejo escolher que rede vai usar preferencialmente, as conversas não têm sido triviais, comentou o presidente da Redecard, Roberto Medeiros, em recente apresentação para analistas. "O lojista não entendeu, é preciso explicar que não é \'você\', é o seu insumo que aumentou." Em outubro, os reajustes não foram feitos para a totalidade da base da Redecard, o que pressionou a taxa de desconto, líquida do intercâmbio e que remunera a credenciadora. Em novembro, já houve alguma evolução, mas em dezembro não tem mais conversa, acrescentou Medeiros. "Com os grandes volumes do mês não dá para pagar a conta."

Na Cielo, que não capturava o MasterCard até 1º de julho, nas renegociações com os lojistas para que usassem a rede preferencialmente, a precificação colocada na mesa já embutiu os ajustes do intercâmbio no débito da bandeira, conta o presidente, Rômulo Dias, antes mesmo do 1º de outubro. "Não foi fácil porque, muitas vezes, o preço que a Cielo apresentava para o débito era maior do que o lojista que operava o MasterCard tinha. Eu preferi explicitar que teria novo intercâmbio e agora não tenho problema."

Assim como fez a C&A, outras varejistas podem frear a aceitação do débito da MasterCard e buscar alternativas menos onerosas, diz o diretor de relações institucionais da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), Luís Augusto Ildefonso da Silva. "Num passado não muito remoto isso aconteceu com os postos de gasolina, é uma resposta natural. Quando aumentam os custos, o varejo tem que se resguardar."

Comparativamente, o débito da MasterCard era 50% mais barato que o Visa Electron, conta o diretor de uma grande rede de varejo. Mas nas renegociações que teve com as credenciadoras, tanto com a Cielo quanto com a Redecard, já estava previsto que haveria algum ajuste. Embora as vendas sejam feitas em grande parte por intermédio dos cartões de crédito, ele explica que na hora do pagamento da fatura dos cartões próprios nas lojas a transação é geralmente feita com um cartão de débito.

Mesmo as redes que têm uma operação financeira por trás e efetivamente emitem cartões, o aumento do intercâmbio não traz benefício porque o débito é uma modalidade exclusiva para instituições que oferecem serviços de conta corrente. No caso da C&A, que ficou sem o suporte de um banco, desde que vendeu o ibi para o Bradesco, o jogo da negociação pode ter ficado mais difícil, com o impacto da elevação de preço sendo absorvido diretamente no seu resultado. Não há mais a contrapartida de receitas do lado financeiro, comenta o executivo de uma rede concorrente.

Procurada, a C&A não quis se manifestar. Outras varejistas consultadas também preferiram não se pronunciar. O Carrefour, por meio da assessoria de imprensa, informou que está ciente do aumento e analisa alternativas para reduzir o impacto em suas operações e para os clientes da empresa.

Já no pequeno e médio comércio não houve ainda impacto das mudanças, segundo o presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), Roque Pellizzaro Junior. "Com a concorrência nos adquirentes, não sentimos o repasse, as empresas devem ter assumido isso, porque, em última instância, são elas que se relacionam com os lojistas."

O presidente da MasterCard, Gilberto Caldart, explicou que é papel da bandeira definir as taxas de intercâmbio que vão remunerar os bancos, estabelecendo uma relação de equilíbrio entre emissão e a rede de aceitação. Para tanto, leva em conta os riscos e custos de cada ente da cadeia. No caso do débito não havia na política anterior no Brasil uma tabela diferenciando essa tarifa por segmento da economia, como existia no crédito. "Cinquenta por cento ficava com o emissor e 50% com a adquirente. Com a abertura, houve uma adequação, necessária para incentivar o uso do débito e também para possibilitar a entrada de novos adquirentes no mercado."

Ao remunerar melhor o banco por transação, a bandeira está incentivando a emissão, a intenção é aumentar a base de cartões da marca em circulação. A lógica é que se na hora da compra o consumidor escolhe determinado cartão, ele é soberano, o comércio não tem como recusar o meio de pagamento às custas de perder vendas.

Segundo Medeiros, da Redecard, os ajustes não se configuram como tendência a ser seguida pela Visa porque a bandeira já adotava um intercâmbio diferenciado por categoria econômica. Dias, da Cielo, acrescenta que a Visa mudou a regra do intercâmbio há dois anos e que em toda a história de relacionamento com a bandeira aquela foi a única vez que houve alteração. Isso não quer dizer, porém, que no futuro, se identificar algum desequilíbrio entre emissão e aceitação, novos ajustes não possam ser feitos.

Valor Econômico