Eletromobilidade desafia indústria no Brasil

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Valor Econômico
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O plano de eletrificação do transporte nos Estados Unidos, anunciado durante a Cúpula do Clima, na semana passada, era a peça que faltava para uma guinada histórica da indústria automobilística global. A adesão do segundo maior mercado de veículos do mundo a uma tendência já forte na Europa e China amplia o uso de carros elétricos no planeta. Ao mesmo tempo, a novidade coloca mais pressão sobre o Brasil. Da decisão sobre que tipo de automóvel será vendido ao brasileiro depende também a sobrevivência de um imponente parque industrial, que faz do país o oitavo maior produtor de veículos do mundo.

Sob o ponto de vista de mercado, o Brasil enfrenta problemas iguais aos de outros emergentes. Os carros 100% elétricos disponíveis são importados e caros para os padrões da maioria dos consumidores. O custo elevado inviabiliza a produção local e, para piorar, falta infraestrutura para carregamento de baterias.São questões que demandam esforço conjunto, de governos e setor privado, e, principalmente, recursos. Nos países ricos, além do investimento na infraestrutura, os governos oferecem bônus a quem troca o carro a combustão por um elétrico.

Não se pode esperar que um país com alto déficit fiscal, problemas de saúde e habitação, agravados pela pandemia, e grande parte da população em situação de miséria se dê ao luxo seguir o exemplo da Alemanha.Em junho de 2020 a primeira-ministra Angela Merkel elevou de € 6 mil para € 9 mil o valor do bônus concedido pelo governo para quem compra um carro elétrico.

Nos Estados Unidos, o pacote que o presidente Joe Biden propôs para a eletrificação do transporte soma mais de US$ 300 bilhões em investimentos em infraestrutura de estações de recarga de baterias e incentivo ao o desenvolvimento tecnológico.

Fosse o Brasil um país sem indústria automobilística, como o Chile, por exemplo, bastaria definir quais veículos importados oferecem o melhor custo-benefício. Se a escolha fosse pelo elétrico, a instalação da infraestrutura para carregamento de baterias seria o maior dos problemas. Mas no Brasil um passo errado coloca em risco as mais de 40 fábricas que se espalham em dez Estados e que há tempos operam com praticamente a metade da capacidade.

A atividade desse parque representa 3% do PIB no Brasil e depende fortemente do mercado interno, o sexto maior do mundo. É justamente para proteger essa indústria que o Imposto de Importação de automóveis sempre foi elevado. Exceto por duas linhas de produção de baixos volumes de modelos híbridos na Toyota, com preços acima de R$ 160 mil, não há planos, no curto ou médio prazos para produção de carros 100% elétricos no país. Os importados custam acima de R$ 200 mil.

As montadoras podem optar por manter as linhas de veículos a combustão durante alguns anos, até o custo dos elétricos baixar a ponto de justificar a produção local. Isso daria tempo também para a organização da infraestrutura de recarga de baterias.Mas, até lá, as exportações do setor ficariam ainda mais limitadas a países vizinhos mais pobres, o que aumentaria a capacidade ociosa das fábricas. Isso também provocaria um distanciamento maior do desenvolvimento tecnológico e pesquisa nessa área.

A boa notícia é que a expansão do uso dos veículos elétricos, reforçada, agora, pelos EUA, fará o custo do carro elétrico cair, o que, consequentemente, pode favorecer sua comercialização em países como o Brasil, afirma Jaime Ardila, especialista em indústria automobilística e fundador do Hawksbill Group, consultoria internacional com sede nos EUA. Para ler esta notícia, clique aqui