Em meio a planos, frota de elétricos não chega a 100 no País
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"Três milhões de veículos leves elétricos deverão circular pelo mundo em 2020. Em 2025 já serão 10 milhões e chegarão a 19 milhões em 2030?. A afirmação é de Jayme Buarque de Hollanda, diretor-geral do Instituto Nacional de Eficiência Energética (INEE), presidente do conselho da Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE), e responsável pela criação do salão latino-americano de veículos elétricos. De acordo com ele, 20% da frota brasileira - hoje em 41 milhões de automóveis - será composta por carros elétricos em 2022. Porém, a realidade atual é bem diferente. Segundo a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), no País existem apenas 58 automóveis emplacados com a denominação "elétrico" (puramente movidos a eletricidade e não híbridos, que além de eletricidade também podem andar com outro tipo de combustível). Mas quais são as reais iniciativas das empresas e montadoras para que os veículos elétricos circulem pelas estradas no País?
Uma das primeiras fabricantes a dar o "pontapé" na chamada "eletrificação brasileira" foi a Nissan. Em parceria com a prefeitura da capital paulista e a AES Eletropaulo, a marca japonesa trouxe duas unidades do Leaf, que fazem parte de um programa piloto que estuda a viabilidade de veículos como esses operarem como táxis pela cidade.
Até outubro, a ideia é trazer mais oito modelos, que circularão por São Paulo. As duas unidades já fazem parte da frota de uma companhia de táxi, e são "abastecidas" em dois pontos de recarga, instalados pela própria Nissan na sede da cooperativa. "A Nissan forneceu dois carregadores de carga lenta, mas a AES vai instalar mais cinco carregadores de carga rápida por concessionárias da marca na cidade. Foram escolhidas regiões estratégicas, próximas a grandes avenidas", afirma Paulo Pimentel, gerente de tecnologia da distribuição da AES Eletropaulo.
Pimentel conta que a intenção inicial da prefeitura era trazer os modelos para substituir algumas unidades da frota da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), mas em função do alto custo dos veículos - e por ser ano eleitoral -, o projeto foi modificado.
Os cinco pontos de recarga rápida da AES, que funcionarão por, no mínimo, 36 meses, poderão completar em 80% a autonomia do veículo, em 30 minutos de tomada. De início, a conta será mandada para a companhia de táxi, que deve desembolsar R$ 7,11 por recarga completa, que equivale a 160 km de autonomia. Ainda não existe uma regulamentação do governo para a tarifa de corrente contínua. A energia gasta é calculada por um medidor convencional, como corrente alternada. "Um carro a combustão gasta R$ 39,24 para rodar o mesmo trajeto. Estamos muito satisfeitos com o projeto, e os relatórios dos usuários dos táxis e dos motoristas são muito positivos. O gasto é equivalente ao de um chuveiro elétrico", diz Pimentel.
A empresa de energia CPFL, também está disposta a desenvolver um protótipo de posto de recarga para veículos elétricos e plug-in, só que em locais públicos. Na sede da empresa, em Campinas, no interior de São Paulo, existe um posto desde agosto de 2010, onde oito modelos elétricos, comprados pela CPFL são abastecidos. São quatro unidades do modelo Aris, desenvolvido em parceria com a fabricante Edra, três unidades do modelo Th!nl City, e um Fiat Palio elétrico - desenvolvido em parceria com a Itaipu -, utilizados para testes e atividades do dia a dia da empresa. "A ideia é que o posto seja uma estação de recarga do tipo pré-pago. O usuário teria um crédito em um cartão personalizado e com ele o motorista poderia recarregar o veículo durante uma parada em um shopping, no cinema ou no horário do almoço", diz Vinícius Teixeira, gerente de inovação da marca.
Além do projeto do "eletroposto", a companhia de energia se dedica atualmente à montagem da primeira bateria de lítio no Brasil para uso em veículo elétrico. "Essa bateria será utilizada em um de nossos veículos. Faremos testes juntamente com as baterias importadas que temos. O atual problema do elétrico ainda é o alto custo das baterias, cerca de 40% do preço do veículo, e a sua baixa produção", completa Teixeira.
Carregue enquanto compra
Por outros pontos da cidade de São Paulo, shoppings já têm vagas reservadas e exclusivas para que veículos elétricos estacionem e façam a recarga rápida, enquanto os donos fazem compras - embora, na verdade, isso raramente aconteça. O shopping Iguatemi inaugurou quatro vagas em maio de 2011. Já em abril deste ano, o Villa-Lobos reservou duas vagas. Marcus Borja, superintendente do Villa-Lobos diz que o empreendimento apenas se adequou a uma tendência de mercado. "O carro elétrico será uma realidade e nós estamos prontos para atender os clientes que são usuários desses veículos", afirma.
Em prédios residenciais e comerciais, as construtoras também já veem as vagas exclusivas como item de necessidade para os próximos anos. A BKO vai entregar em outubro, na Vila Olímpia, em São Paulo, seu primeiro empreendimento com dois pontos de recarga. A intenção da empresa é lançar mais seis construções com vagas para elétricos no ano que vem. A carioca Calper também planeja para 2015 um conjunto residencial com estacionamento com tomada para abastecimento de elétricos no bairro do Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro.
"Por enquanto, não dá"
Chevrolet, Toyota, Nissan e Mitsubishi são algumas empresas que já trouxeram ao Brasil veículos elétricos para demonstração. Mas nenhuma delas chegaram, de fato, a pensar em comercializar as unidades por aqui. Procuradas pelo Terra, Chevrolet e Fiat disseram que não têm qualquer plano de produzir ou comercializar veículos elétricos no Brasil. Já a Mitsubishi contou que negocia com vários governos estaduais, polícia ambiental e empresas. "Mas a venda para pessoa física é inviável. O i-Miev sairia por R$ 200 mil. Estamos trabalhando para tentar viabilizar uma legislação que privilegie a vinda do modelo. Por enquanto, não dá", diz Reinaldo Muratori, diretor de engenharia da Mitsubishi.
De acordo com Muratori, o deputado Irajá de Abreu (PSD-TO) tem um projeto de lei já aprovado, e que deve passar por nova votação neste semestre, que incentiva a produção local de veículos elétricos, e isenta o Imposto de Produtos Importados (IPI) para modelos "verdes" pelos próximos cinco anos. "Ele também prevê que as frotas do governo tenham um percentual mínimo de elétricos. É o projeto mais bem encaminhado dentro do Congresso. Temos esperança que dê certo", diz ele, completando que apesar dos impostos, o custo de produção ainda é elevado. "Esperamos que em 2015 o custo já tenha caído em 30%, o que tornaria o elétrico mais atraente. Esse é um dos principais entraves".