Peso de impostos na mira da imprensa internacional

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Se antes eram os brasileiros que viajavam ao exterior que se assustavam com a diferença, para mais, dos preços de produtos e serviços praticados aqui, agora são os estrangeiros que retratam esta anomalia. Jornais internacionais questionam o elevado custo e os pesados impostos do Brasil, que daqui a 30 dias sediará a Copa. Até o diário  esquerdista francês “Le Monde" fez a comparação de preços de bens, como carros e iPhone, e se assustou com o que viu. Sua reportagem repercutiu nas redes sociais e reforçou a percepção de que o Brasil é caro.

Na reportagem “Brasil, o país onde o custo de vida é mais alto”, o jornal dizia que “o gigante latino-americano é o campeão dos preços altos e dos impostos”. “Os carros e eletrodomésticos custam pelo menos 50% mais do que nos outros países”, revela o texto. “Isso é ainda mais surpreendente quando se comparam esses dados com o salário médio de um brasileiro", diz a reportagem, que culpa a falta de reformas estruturais, com “um grande déficit de infraestrutura” aliada a um “sistema fiscal de um peso abissal”, citando a carga de 36% do Produto Interno Bruto (PIB) — chegando a 58% nos salários — muito acima da média de outros emergentes. Mônica de Bolle, da Galanto Consultoria diz que o que faz um jornal de esquerda de um país com altos impostos, como a França, criticar o Brasil não é o tamanho da carga tributária em si, mas a falta de contrapartida em serviços de qualidade. Na Europa os impostos são altos — sobretudo sobre renda e riqueza, ao contrário do Brasil que tributa mais o consumo — porém lá há oferta de serviços de saúde, educação e transporte de qualidade: — O Brasil está no foco pelos grandes eventos, por ter sido uma grande aposta econômica que não se concretizou e pela nova onda de protestos. Um país com uma carga tributária como a nossa não pode ficar sempre na lanterna dos rankings internacionais de educação, por exemplo. Outra publicação francesa, o progressista “Libération”, também criticou os elevados custos do país às vésperas da Copa e até citou o movimento Rio $urreal, que ganhou força no Facebook no começo do ano. Carlos Thadeu de Freitas, economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e ex-diretor do Banco Central, diz que a carga tributária cresceu nos últimos anos por causa do aumento das transferências sociais. Ele lembra que a folha de pagamento dos servidores está estável em 5% do PIB há vários anos e que os investimentos não decolam. — O Brasil não tinha muita opção, tinha de enfrentar a desigualdade e isso se faz ampliando, provisoriamente, a tributação. As nações ricas, que criticam a carga brasileira, vivem aumento de desigualdade e do desemprego, inclusive a França. Estamos no caminho contrário — disse ele, lembrando que a carga está no teto e que o Brasil precisa fazer reformas fiscal e tributária. ‘FT’ destaca tamanho do Estado brasileiro Um dos tradicionais críticos da política tributária brasileira, o “Financial Times” publicou, na semana passada, reportagem em que destaca o tamanho do Estado brasileiro. Segundo o FT, o “inchaço” do funcionalismo público é um dos entraves à competitividade. O jornal lembra que os impostos passaram de 31,7% do Produto Interno Bruto (PIB), em 1999, para os atuais 36,2% do PIB. A reportagem lembra também que o Brasil aparece na 124ª posição em um índice de competitividade e eficiência do governo, de uma lista de 148 nações feita pelo Fórum Econômico Mundial. Na semana passada, o “Wall Street Journal” informou que o governo brasileiro considera aumentar impostos sobre importações e automóveis para pagar por estímulos nos programas sociais, à medida que a presidente Dilma Rousseff vê sua popularidade cair próximo às eleições. REFORMA TRIBUTÁRIA Armando Castelar, professor do IBRE/FGV e da UFRJ, acredita que diversos fatores elevam a carga tributária brasileira, como a taxa de câmbio, a inflação de serviços — que há anos está superior à inflação — e aos problemas de competitividade do Brasil. Ele acredita que o país precisa fazer reformas estruturais, como a tributária, melhorar a educação e ampliar a infraestrutura e a produtividade para ter uma economia mais saudável: — O pior é que a carga tributária elevada não se traduz em serviços públicos de qualidade, como vemos em outros países. Num momento de queda de produção, o governo tende a proteger ainda mais a indústria nacional, o que amplia distorções. Não são apenas os impostos que chamam a atenção. Reportagem da revista “The Economist” diz que o preço salgado do iPhone no Brasil não faz sentido. Mesmo com os incentivos para empresas fabricarem gadgets no país, os telefones custam mais do que nos EUA. Os motivos? Altos custos trabalhistas e de aluguéis. Além das críticas do “Le Monde” e do “Liberatión”, outras publicações questionam os custos do país. Na semana passada, o “The New York Times” publicou reportagem destacando a presença maior de turistas brasileiros em Nova York. O total passou de 800 mil, em 2012, para 895 mil, no ano passado. Cada um gastou, em média, no ano passado, US$ 2.977 em compras, turismo e lazer. Os impostos elevados sobre importados no Brasil estimulam as viagens, diz o jornal.

O Globo