Gabrielli anuncia corte de gastos na Petrobras de US$ 13,6 bi até 2015
A ordem na Petrobras é apertar os cintos, cortando alguns projetos, adiando outros. Além disso, vai se desfazer de alguns ativos e otimizar seu fluxo de caixa. O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, ao detalhar ontem o Plano de Negócios para o período 2011/2015 da companhia — que prevê investimentos de US$ 224,7 bilhões —, anunciou que a estatal pretende economizar US$ 13,6 bilhões no período com a venda de ativos no Brasil e no exterior, e com uma melhor gestão de seu caixa, deixando de financiar seus fornecedores com a antecipação do pagamento das faturas.
Além disso, foi adiada, de 2014 para 2016, a entrada em operação da Refinaria Premium I, que será construída no Maranhão. Os investimentos este ano também foram cortados de R$ 93 bilhões para 84,7 bilhões. O mercado recebeu positivamente o plano de negócios. Num dia de perdas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), as ações da Petrobras foram o destaque de ganhos do pregão. Os papéis preferenciais (PN, sem voto) subiram 2,31%, a R$ 23,50; e os ordinários (ON, com voto) avançaram 2,20%, a R$ 26,06, segunda e terceira maior alta do Ibovespa. Segundo analistas, o mercado gostou sobretudo do corte de investimentos na área de refino, alvo de críticas de especialistas por causa da baixa rentabilidade da área de negócios. Os investimentos na área recuaram de US$ 73,6 bilhões para US$ 70,6 bilhões.
— O plano é bem factível com a capacidade de endividamento da empresa, que deve subir para 25% a 26%. Esses aspectos foram suficientes para a alta, até porque as ações da empresa perderam muito valor nos últimos meses — diz Osmar Camilo, analista da Socopa Corretora.
Produção de petróleo no país deve triplicar
A economia de US$ 13,6 bilhões será obtido com a venda de ativos no exterior, como participações em campos de petróleo e gás. Até 2015, a Petrobras prevê contratar mais 14 mil funcionários, passando para 74,4 mil. — Pode ser a venda de participação em blocos no Brasil e no exterior. E outra é a venda de participações em empresas não relacionadas às principais atividades da companhia. Outra opção é a busca de otimização do capital — enumera Gabrielli. O diretor Financeiro da Petrobras, Almir Barbassa, explicou que a empresa vai modificar o uso de seus recursos no fluxo de caixa. Uma das principais medidas será a de não mais financiar seus fornecedores antecipando o pagamento como costumava fazer. A estatal tem um programa chamado Progredir que permite aos fornecedores obterem o financiamento junto aos bancos dando como garantias seus contratos com a Petrobras.
— A Petrobras tem um capital de giro elevado com estoques, contas a receber e adiantamento a fornecedores. Quem gosta de emprestar dinheiro é o banco, então eles que façam a atividade deles. Vamos nos concentrar na atividade fim de uma empresa de óleo e gás — diz Barbassa. Apesar do aperto nos investimentos, que tiveram um aumento de apenas US$ 700 milhões em comparação ao plano anterior de 2010/14, a produção de petróleo no país e no exterior deverá aumentar de 2,77 milhões de barris diários para 3,99 milhões de barris por dia, em 2015, e 6.41 milhões, em 2020. Só a produção de petróleo no país passará de 1, 21 milhão de barris diários, previstos para este ano, para 3,07 milhões de barris em 2015. Com a redução dos investimentos no exterior para US$ 11,2 bilhões no período, ante os US$ 11,7 bilhões anteriores, a produção passará dos atuais 237 mil barris diários de petróleo e gás para 305 mil em 2015. Gabrielli destacou o aumento da participação na produção do pré-sal que passou de 240 mil barris diários para 543 mil em 2015 e atingirá 1,14 milhão de barris só no pré-sal em 2020.
Refinaria do Maranhão será adiada
Os investimentos previstos de US$ 224,7 bilhões correspondem a R$ 389 bilhões, contra R$ 419,7 bilhões anteriores. A área de exploração e produção continuou prioritária no novo plano. Nela, serão aplicados US$ 122,5 bilhões, 57% dos investimentos totais. A área de refino perdeu US$ 3 bilhões em investimentos no período, que totalizarão agora US$ 70,6 bilhões. Gabrielli disse ainda que a entrada em funcionamento da refinaria Premium I, no Maranhão, será adiada de 2014 para 2016. Ainda no abastecimento, foram eliminados o projeto de tancagem de óleo combustível para térmicas; e os projetos de logística de transporte de QAV (combustível de aviação) para Brasília. Os demais projetos na área de refino como o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), a refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e a Premium II, prevista para 2017, no Ceará, não tiveram seus cronogramas adiados.
Na área de gás e Energia foram cortados US$ 4 bilhões nos investimentos, passando US$ 17,8 bilhões para US$ 13,8 bilhões. O presidente da Petrobras destacou que após o período de fortes investimentos na oferta e distribuição de gás natural, agora os investimentos serão alocados principalmente para projetos de produção de fertilizantes (amônia e uréia) para usarem o gás natural como matéria-prima. O único projeto de expansão da oferta do gás é a construção de um terceiro terminal para importar gás natural liquefeito (GNL), além dos terminais em Rio de janeiro e Ceará. Com o novo terminal, a capacidade de importação de GNL passará dos atuais 21 milhões de metros cúbicos diários para 41 milhões de metros cúbicos em 2015.
O Globo