Gasolina está 13% mais barata no Brasil
A gasolina vendida pela Petrobras às distribuidoras está 12,9% mais barata que aquela vendida nos países da Costa do Golfo, onde estão os maiores produtores - e também os conflitos que desestabilizam países como Líbia, Bahrein e Arábia Saudita. Entre o fim de 2010 e ontem, o preço do barril do petróleo do tipo Brent ficou 17% mais caro, passando de R$ 94,6 para R$ 113,7. Esse aumento de preços, no entanto, ainda não afetou o consumidor brasileiro. Segundo levantamento realizado pela Rosenberg & Associados a pedido do Valor, houve forte inversão de papeis nos últimos meses. Em junho de 2009, quando a Petrobras fez o último reajuste de preços, a gasolina vendida no Brasil era 11% mais cara que a negociada na Costa do Golfo. Os cálculos consideram o preço por litro de gasolina - ou seja, depois de todo o processo de refino do petróleo.
Do momento em que a Petrobras concedeu o último reajuste - de menos 4,5%, em junho de 2009, para fazer frente ao derretimento nos preços internacionais do petróleo, que refletiam a explosão da crise mundial - até ontem, o barril de petróleo cru, do tipo Brent, ficou 38,5% mais caro, passando de US$ 69,9 para US$ 113,7. Em igual período, o real se valorizou 13,9% em relação ao dólar, que passou de R$ 1,93 para R$ 1,66. Ou seja, o câmbio não compensou sequer metade da elevação internacional dos preços do petróleo.
Ao manter os preços intactos, a Petrobras está subsidiando os consumidores brasileiros, afirma Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). "Quando os preços internacionais estavam no piso, devido à crise mundial, no começo de 2009, os consumidores brasileiros pagavam mais pela gasolina que o restante do mundo. Agora é o contrário", diz o especialista.
Segundo o estudo da Rosenberg, em junho de 2009, as grandes distribuidoras como Shell, Esso e Ipiranga pagavam US$ 0,56 por litro de gasolina vendido pela Petrobras - 11,1% a mais que os US$ 0,50 cobrados na Costa do Golfo.
O preço praticado na Costa do Golfo atualmente está em torno de US$ 0,75 por litro de gasolina. Já o preços praticado pela Petrobras, de US$ 0,64 por litro, está 12,9% mais barato que no mercado internacional. Entre junho de 2009 e este mês, a gasolina cobrada pela Petrobras ficou 14,3% mais cara, enquanto os preços da gasolina produzida pela Costa do Golfo aumentaram 49,4%.
Procurada pelo Valor, a Petrobras respondeu, por meio de nota, que "a política adotada desde 2003 é de não repassar a volatilidade do mercado para os preços no curto prazo". Os preços cobrados pelas distribuidoras aos postos e deste aos consumidores é livre - não há, portanto, controle estatal dos preços praticados no mercado, que respondem apenas às características da demanda interna, como emprego, salários e crédito.
Acordo com levantamento semanal realizado pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) junto a 8,7 mil postos no país, mostra que o preço médio pago por litro de gasolina às distribuidoras na semana passada foi de R$ 2,28, enquanto foi cobrado dos consumidores, em média, R$ 2,62 por litro de gasolina - pequena variação frente aos R$ 2,61 cobrados, em média, um mês antes.
Segundo Ariadne Vitoriano, economista da Rosenberg, a Petrobras não deve seguir, pelo terceiro ano consecutivo, o movimento de alta nos preços internacionais. "A inflação está pressionada, tornando o momento ruim para a companhia elevar os preços", diz. Para Pires, do CBIE, a defasagem de preços, embora seja boa para o consumidor, configura uma "distorção absurda" ao acionista da empresa.
Estudo do CBIE avalia que entre junho de 2005 e setembro de 2008 - os dois reajustes anteriores ao realizado em junho de 2009 - a Petrobras deixou de ganhar quase R$ 13 bilhões com a venda de combustíveis mais baratos no Brasil que no mercado internacional, uma vez que o barril de petróleo atingia patamares recordes (US$ 146,6, em julho de 2008) e os preços continuavam fixos. Quando o petróleo despencou, a partir de outubro de 2008, a empresa praticamente recuperou essa "perda" - segundo o CBIE, ganhou R$ 13 bilhões até maio de 2009, um mês antes de repassar parte da queda de preços internacionais, com o reajuste de -4,5%.
"A Petrobras segue a tendência do mercado internacional quando calcula os preços do querosene de aviação, da nafta para a indústria petroquímica e o óleo combustível, por que não faz o mesmo com o diesel e a gasolina?", pergunta Pires, para quem a resposta é "para produzir dividendos políticos ao governo".
Ontem, tropas sauditas entraram no Bahrein, de forma a desestimular protestos sociais que possam derrubar o governo daquele país, parceiro da Arábia Saudita. O petróleo reagiu, aumentando 2,3% em apenas um dia.
Valor Econômico