Governo Federal fará importação maciça de etanol anidro

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Ainda sob risco de desabastecimento interno, o governo decidiu ontem apostar na importação maciça de etanol anidro para "congelar" a redução da mistura desse biocombustível na gasolina. A presidente Dilma Rousseff cobra uma "solução antecipada" para evitar uma crise de oferta semelhante à ocorrida no início deste ano.

Em uma ampla reunião no Ministério das Minas e Energia, ficou decidido que, "ao menos até novembro", o governo tentará driblar os riscos com a compra de 1 bilhão de litros de etanol no exterior. A ordem é adiar "pelo maior tempo possível" a redução e, até mesmo, evitá-la se for possível. Usinas e tradings já começaram a operar e têm 680 milhões de litros em estoque ou sob contrato. "Seria caro e contraproducente reduzir a mistura agora", disse um integrante da reunião. "Hoje, é mais barato importar anidro do que gasolina."

Por isso, o governo resolveu dar um "voto de confiança" aos usineiros. E espera o "cumprimento à risca" do compromisso de abastecer, a preços razoáveis, o mercado interno de etanol, anidro e hidratado. As usinas queriam "discrição" para evitar uma forte alta nos preços do anidro nos Estados Unidos, principal fornecedor brasileiro.

O governo avalia que a redução da mistura, dos atuais 25% para 20% ou 18%, teria impacto nos preços da gasolina ao consumidor, geraria mais pressão inflacionária, teria efeitos tributários relevantes, traria problemas para a balança comercial e significaria prejuízos à Petrobras - na importação de gasolina e na perda de produtividade de suas refinarias. Na reunião, o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, disse que a redução derrubaria em até 13% a produção da petroleira. Haveria um recuo na produção de 50 mil barris/dia. Para atender à demanda adicional, a Petrobras passaria a ter que importar o equivalente a 30 ou 45 dias de gasolina - hoje, essa necessidade soma quatro ou cinco dias.

Na reunião, que teve a presença dos ministros Edison Lobão (Minas e Energia) e Fernando Pimentel (Desenvolvimento), os especialistas do governo avaliaram que o crescimento da economia está "muito acima" da capacidade de abastecimento de etanol no mercado interno. "O consumo só aumenta e a frota \'flex fuel\' só cresce", disse um fonte do encontro. À saída da reunião, o ministro Lobão afirmou que o mercado está "abastecido" e "estável". Para ele, as medidas adotadas até agora estabilizaram os preços. "Não vamos fazer alterações neste momento, mas marcamos outra reunião para o dia 30 de agosto com possibilidade de antecipação, se preciso."

Lobão informou que o governo publicará, em dez dias, uma medida provisória com linhas de financiamento para estimular a estocagem e a produção de etanol. A MP deve contar com linhas com juros baixos para estimular a produção. Além disso, está sendo avaliada a possibilidade de benefícios à produção de etanol em detrimento ao açúcar. As linhas de crédito serão do BNDES e do Banco do Brasil. A meta é ampliar a produção de cana-de-açúcar. O governo estima uma capacidade ociosa para 150 milhões de toneladas nas usinas de cana, o equivalente a 20% da capacidade total de moagem do país. Ele anunciou investimentos de US$ 4,1 bilhões da Petrobras Biocombustíveis no prazo de três a quatro anos.

Valor Econômico