Impasse em relação ao aumento da gasolina derruba ações da Petrobrás

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A indefinição do governo em torno da fórmula de reajuste dos preços de combustíveis da Petrobrás provocou ontem uma queda de 6,4% nas ações da estatal na Bovespa. A incerteza foi acentuada por declarações do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que disse que o governo ainda não chegou a um mecanismo para “eventual reajuste” da gasolina e do diesel.
 
“Estamos discutindo com a diretoria e o conselho até amadurecermos uma fórmula considerada satisfatória”, afirmou o ministro, que é o presidente do conselho de administração da Petrobrás. Ele criticou uma solução que resultasse em indexação da economia. Segundo fontes, Mantega foi destacado como porta-voz da questão pelo Palácio do Planalto.
 
O mercado esperava o anúncio de um reajuste na semana passada, quando estava prevista uma reunião do conselho da Petrobrás. O encontro foi adiado para amanhã, em meio a disputas internas opondo Mantega à presidente da estatal, Graça Foster, que insiste na recomposição de preços para reduzir a exposição da estatal a dívidas e o descasamento entre os valores pagos na importação de gasolina e sua revenda no País. Ontem, Mantega argumentou que essa decisão não pode ser feita de improviso e exige cautela.
 
O ministro da Fazenda contesta a necessidade de um reajuste, de olho no impacto de uma alta na inflação, já pressionada e acima do centro da meta de 4,5% definida pelo Conselho Monetário Nacional. “Tem de compatibilizar os interesses da Petrobrás com esses problemas.”
 
Resistência. O Ministério da Fazenda resiste ao modelo proposto pela estatal, que prevê correções periódicas dos preços com base nas taxas de câmbio e nas cotações internacionais do petróleo. A presidente Dilma e Mantega não gostaram também de a proposta ter sido divulgada pela empresa antes de sua aprovação pelo governo.
 
Graça Foster informou no final de outubro, durante a divulgação de balanço da empresa, que a diretoria da Petrobrás tinha apresentado ao conselho de administração uma nova metodologia para reajuste dos combustíveis. A intenção, segundo ela, era dar maior previsibilidade ao alinhamento dos preços domésticos do diesel e da gasolina às cotações internacionais dos dois produtos.
 
Em janeiro deste ano, o governo autorizou a Petrobrás a aumentar em 6,6% o preço da gasolina e em 5,4% o do diesel. Depois disso, houve mais um reajuste, em março, no preço do diesel, de 5%. Circulam informações de que o próximo aumento poderá ser de 5% para gasolina e 10% para o diesel.
 
O economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn, afirmou esperar um aumento de 4% da gasolina na bomba dos postos de combustíveis em 2013. “Na refinaria, isso significaria uma elevação de 5% neste ano, que para 2014 deverá atingir uma alta de 7%”, comentou.
 
Perguntado se temia a volta do fantasma da indexação dos preços dos combustíveis, Goldfajn fez o seguinte comentário: “Fico mais preocupado com o fantasma dos preços defasados”. “Mas, como economista, o máximo que posso falar é da minha previsão sobre a alta do preço de gasolina para este ano e para o próximo”, comentou.
 
Para muitos especialistas, como o ex-ministro da Fazenda Delfim Netto, a defasagem dos preços é ruim por dois motivos: o primeiro é que comprime as receitas da estatal, o que prejudica o programa de US$ 236 bilhões em investimentos de 2013 a 2017. O segundo é que gera uma inflação artificial, que pode ser eficiente para segurar os preços no curtíssimo prazo, mas não consegue conter o desequilíbrio entre oferta e demanda agregada. 
 
O Estado de São Paulo