Mantega nega que governo esteja represando reajustes

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O ministro da Fazenda, Guido Mantega, negou ontem que haja represamento dos preços da gasolina e justificou que não se deve fazer um reajuste nos preços dos combustíveis “correndo atrás do câmbio”. Durante audiência pública na Câmara dos Deputados, o ministro considerou que, além de o momento de volatilidade do câmbio não ser o indicado para um reajuste, não se deve anunciar aumentos, uma vez que isso “mexe” com o mercado. — Não é recomendável que se faça tempestivamente reajuste de tarifas correndo atrás do câmbio, senão seria uma loucura. Imagine como isso perturbaria a economia brasileira. Tem de esperar passar a turbulência, a volatilidade — disse o ministro. — Eu não falo em aumento de preço. Não se deve anunciar — completou. Mantega ressaltou que todo ano há cerca de dois reajustes de preço da gasolina no Brasil. No entanto, observou, com a desvalorização cambial, é mais difícil atingir um alinhamento com o preço internacional, que é o parâmetro utilizado para se definir as correções. — Não é simplesmente reajustar o preço da gasolina pela inflação brasileira, porque isso foi feito tranquilamente. Todos os anos a gasolina subiu até mais que a inflação — afirmou. Mantega negou também que o governo esteja segurando preços administrados no Brasil. Ele lembrou que, recentemente, foram reajustados preços de medicamentos e de prêmios lotéricos, além do aumento das tarifas de energia — Nós temos feito, sim, reajustes. Maior exemplo é o preço da energia, que subiu 18%. Onde está o represamento de preços? — disse o ministro. Ele foi questionado por parlamentares devido a uma entrevista do ministro-chefe da Casa Civi, Aloizio Mercadante, publicada ontem no jornal “Folha de S.Paulo” em que Mercadante afirmou que esses preços são administrados "em função do interesse estratégico da economia, dos consumidores". E "o modelo permite que você, por meio de financiamentos e outros  procedimentos do Estado, garanta que o impacto se dilua no tempo e você mantenha o seu compromisso com a meta de inflação". Mantega afirmou que ainda não havia lido a entrevista e preferia não comentar as declarações de seu colega de Esplanada. Durante a audiência, Mantega saiu em defesa do modelo econômico do PT. Ele defendeu a oferta de subsídios para aumentar o investimento e disse que o Brasil foi o segundo país em que a formação bruta de capital mais cresceu. O ministro argumentou que, em função do modelo de crescimento, o Brasil conseguiu gerar emprego mesmo com a crise. Mantega ressaltou ainda que o nível de vida do trabalhador não se deteriorou durante a crise e que houve queda da pobreza com distribuição e renda. 2013, ‘TALVEZ O ANO DA VIRADA’ Mantega previu que o Brasil deve manter o crescimento econômico registrado em 2013. Aos parlamentares, ele lembrou que o IBGE deve revisar os dados do ano passado. Por causa de números da indústria brasileira melhores que os preliminares, a taxa de crescimento no Brasil de 2,3% deve aumentar. — Ainda não sabemos para quanto vamos. 2013 foi talvez o ano da virada — disse o ministro. Para ele, a boa notícia é que o Brasil “está saindo” dessa crise, mas que essa transição é dolorosa para todos os países. Segundo o ministro, com crescimento maior da economia, o governo pode ambicionar uma meta maior de superávit primário. Ele garantiu que, este ano, o governo cumprirá a meta de economia para o pagamento de juros da dívida pública equivalente a 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país). — Nosso objetivo é produzir um primário cada vez maior, de modo a voltarmos aos patamares anteriores e continuarmos reduzindo a dívida/PIB aqui no país — afirmou. Mantega discordou do rebaixamento, em março, da nota de crédito soberano do Brasil pela agência de classificação de risco Standard & Poor\'s e ressaltou que a agência de classificação Fitch Ratings manteve a sua avaliação sobre o país. — Ontem (terça-feira), fiz uma reunião com a Fitch. Eles confirmaram o nosso rating acima do investment grade e não queremos dar motivo para que haja uma mudança — disse Mantega. A assessoria de imprensa do Ministério da Fazenda esclareceu que, ao citar a avaliação Fitch, o ministro não se referiu a uma nova classificação da nota do Brasil, mas sim a manifestações passadas e ao fato de a agência não ter acompanhado a avaliação da Standard & Poor\'s. Segundo a assessoria, na reunião de terça-feira, o ministro não tratou do rating brasileiro.

O Globo