Melhora visão administrativa na Petrobras

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A presidente Dilma Rousseff construiu a imagem de “faxineira ética” ao aproveitar, no primeiro ano de governo, o sucessivo afastamento de ministros, atingidos por denúncias de “malfeitos”, e procurar preencher as vagas com base em critérios o mais distante possível da cartilha do fisiologismo seguida na montagem de parte de sua própria equipe e na gestão do patrono Lula.

Se não podia defenestrar junto com o ministro o partido ao qual foi doado o ministério, buscou pinçar nos quadros da legenda alguém menos comprometido com o toma lá dá cá reinante em todos estes anos.

E assim Dilma deu uma cara própria ao governo. Porém, é na Petrobras que a preocupação do Planalto de injetar seriedade e rigor técnico produz resultados mais visíveis — até pelo tamanho da empresa. A transferência da técnica Graça Foster, do cargo de diretora da área de Gás e Energia, para a presidência da estatal, no lugar do economista e militante petista José Sérgio Gabrielli, se candidata a ser a mais drástica guinada administrativa dada pela presidente — na direção certa.

Dentro do novo estilo, bem mais profissional, a empresa acaba de admitir associar-se a grupos externos para tocar projetos de refinarias definidos nas bases voluntariosas da gestão anterior. O passo é certo e importante, porque o aumento do consumo interno, sem um parque de refino dimensionado para atendê-lo minimamente, produz hoje a bizarra situação de o país importar gasolina, subsidiar o consumidor, devido ao controle da inflação, e, com isso, punir o álcool, de que o Brasil já se vangloriou por ser um combustível alternativo ao poluidor petróleo.

Estas associações podem recuperar o tempo perdido no cronograma de projetos, pois aportarão recursos escassos na estatal, depois de revisto o orçamento pela nova diretoria da empresa. Substituir a ideologia, muito presente na administração companheira de Gabrielli, pela racionalidade ajudará a empresa inclusive a recuperar o valor perdido em Bolsa depois que Graça Foster assumiu e começou a recolocar os planos da Petrobras no mundo real. De meados de junho, quando foram anunciados os cortes em investimentos, em diante a Petrobras ficou menor em R$ 8 bilhões.

Ao detalhar o novo plano de investimentos da empresa, Foster não poupou os erros dos tempos de Gabrielli, sempre ao lado de Lula nas bravatas petrolíferas lançadas dos palanques. (De uma dessas jogadas político-ideológicas surgiu a refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, com a PDVSA de Chávez, que ainda não colocou um centavo no projeto).

Metas jamais alcançadas, decorrência de falta de planejamento, de controles insuficientes e de ausência de competência gerencial — eis um resumo do diagnóstico de Graça e sua nova diretoria sobre a situação da empresa.

Porém, nem mesmo na Petrobras, companhia estratégica, o Palácio tem liberdade absoluta para agir. Na reforma da diretoria, Foster privilegiou técnicos sem esquemas políticos, segundo consta. O preço dessas mudanças parece ter sido a criação de um cargo de diretoria apenas para abrigar José Eduardo Dutra, ex-presidente do PT e da própria estatal, e, pelo menos até agora, a intocabilidade, na Transpetro, do ex-senador pelo PMDB do Ceará Sérgio Machado. Em comparação ao passado, parece uma revolução. 

O Globo