No etanol, ataque é feito em público; desculpas, em privado, diz Wikileaks

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Durante anos, o governo brasileiro criticou os Estados Unidos por causa de barreiras contra a entrada do etanol no mercado americano. O que não se sabia é que nos bastidores chegou a pedir desculpas por isso.

Um documento da embaixada americana em Brasília, publicado pelo site Wikileaks, relata que na abertura da Conferência Internacional de Biocombustíveis, realizada em São Paulo, no ano de 2008, o então governador paulista José Serra atacou duramente as tarifas contra o etanol e reclamou da inconsistência "da mensagem (dos EUA) de livre comércio com o mercado, mas fechado para o etanol brasileiro".

José Serra fez a crítica pouco antes de o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva falar. Pouco depois, conta o documento, "funcionários brasileiros se desculparam em privado junto a membros da delegação americana por essas observações".

O Brasil sempre insistiu que os EUA deveriam derrubar as sobretaxas que praticamente impedem a entrada do etanol. Mas outro documento americano relata que em 2006 um então alto funcionário do Ministério da Agricultura, Ângelo Bressan, admitia riscos se os americanos realmente abrissem o mercado para o produto brasileiro.

Segundo o documento, o funcionário disse que o ministério gostaria que as barreiras ao etanol fossem derrubadas, mas em etapas. Seu temor era de, quando o mercado americano se abrisse, os consumidores brasileiros fossem afetados porque os produtores iriam querem sobretudo exportar o etanol.

Depois de anos de ameaças, o governo anuncia agora que prepara uma denúncia na Organização Mundial do Comércio (OMC) contra sobretaxas impostas ao etanol nos Estados Unidos.

Fontes do governo dizem que o contencioso não foi deflagrado antes por causa da Unica (União da Indústria da Cana-de-açúcar), que achou que podia resolver tudo amigavelmente, com conversas em Washington junto a congressistas americanos. Como isso não funcionou, a Unica agora parece decidida a recorrer à OMC. A questão é quando o caso chegará enfim diante dos juízes.

Valor Econômico