Novo presidente da Petrobras reduz reajustes, mas diesel sobe 9% em 3 meses

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Nos três meses em que o general Joaquim Silva e Luna está na presidência da Petrobras, a companhia tornou menos frequentes os reajustes nos combustíveis. Mesmo assim, desde que o general tomou posse, houve alta de 9,3% no preço médio do diesel, 7,2% no da gasolina comum e 8,2% no do gás de cozinha, segundo dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis).

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) trocou o comando da companhia justamente após pressões por causa do aumento do preço dos combustíveis. À época, investidores tinham o temor de que Bolsonaro estaria tentando intervir na Petrobras. Depois do primeiro trimestre de Silva e Luna no comando, analistas dizem que o mercado financeiro se acalmou, vendo com bons olhos a gestão do general. Mas os caminhoneiros, base eleitoral do presidente, não se convencem. Influenciados pela alta no preço, os motoristas consideram que a nova gestão é apenas "mais do mesmo".

Os reajustes e o preço Desde 19 de abril, quando Silva e Luna assumiu, quatro reajustes foram feitos pela Petrobras. Um deles, no final de abril, reduziu o preço da gasolina e do diesel em 2%. Em junho, a gasolina caiu mais 2%. Outra alteração, em julho, aumentou os valores em 6,3% para a gasolina, 3,7% para o diesel e 5,9% para o gás de cozinha. O gás natural, que é reajustado trimestralmente, subiu 7%. Mesmo assim, no caso do diesel, o valor cobrado nas bombas subiu de R$ 4,20 para R$ 4,59 entre a semana de 18 de abril e a de de 11 de julho, segundo a ANP. No mesmo período, a gasolina comum foi de R$ 5,44 para R$ 5,83, e o gás de cozinha, de R$ 85,15 para R$ 92,17.

Por que preços subiram?

William Nozaki, coordenador técnico do Ineep (Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), ligado à FUP (Federação Única dos Petroleiros), afirma que as altas não estão relacionadas aos impostos estaduais, como afirmou Bolsonaro, já que os percentuais cobrados continuaram iguais.

Segundo ele, os aumentos para o consumidor ocorrem mesmo sem os reajustes na Petrobras por causa dos outros elos da cadeia, que atuam de forma independente. Para o diesel, houve o agravante da volta da cobrança de PIS e Cofins em maio, o que adicionou R$ 0,31 ao preço.

"A Petrobras cobra pelo combustível na refinaria. Mas, até ele chegar ao consumidor, o preço ainda vai incorporar margens de lucros de distribuidoras e postos. Na prática, quando a Petrobras reajusta o preço, o consumidor sempre vai sentir o aumento. Mas distribuidores e revendedores nem sempre vão repassar eventuais reduções. William Nozaki.

Em nota, a Fecombustíveis (Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes) afirmou que os postos "não são culpados pelos preços dos combustíveis no Brasil". A entidade diz que o dólar, o preço do barril de petróleo no mercado internacional e a carga tributária "fazem com que o combustível no país seja caro". Ainda de acordo com a Fecombustíveis, os aumentos nas bombas ocorreram quando a Petrobras reajustou os preços nas refinarias e com as alterações quinzenais na base de cálculo do ICMS, imposto estadual que incide sobre combustíveis.

Segundo Nozaki, a situação deve piorar nas próximas semanas, porque os preços do petróleo no mercado internacional estão em alta. Com isso, a pressão para que a Petrobras intensifique os reajustes deve aumentar.

Reajustes menos frequentes são modelo "funcional" A indicação de Silva e Luna para substituir Roberto Castello Branco veio em um momento de pressão sobre Bolsonaro: com os combustíveis em alta, o presidente se irritou e chegou a dizer que "alguma coisa aconteceria" na Petrobras.

A fala foi interpretada por investidores como uma possível tentativa de interferência na estatal, o que fez a companhia perder mais de R$ 100 bilhões em valor de mercado. O temor era de que, para baixar o valor dos combustíveis, Silva e Luna deixasse de lado o PPI (Preço de Paridade de Importação). Adotada desde 2016, a metodologia vincula o preço dos combustíveis comercializados pela Petrobras ao valor do petróleo no mercado internacional.

Nozaki, do Ineep, afirma que, mesmo mantendo o PPI, Silva e Luna encontrou um meio-termo. "Sob Castello Branco, havia a tendência de fazer os reajustes com mais frequência. No começo da gestão, a média era de um reajuste a cada 18 dias. No final, passou para um reajuste a cada 12 dias. Ao que tudo indica, esse ritmo tem sofrido alteração na gestão de Silva e Luna, com um reajuste a cada 30 dias.

Segundo o pesquisador, o modelo é "funcional" para o governo, já que se equilibra entre as pressões do mercado e questões eleitorais. Caminhoneiros seguem insatisfeitos.

Caminhoneiros seguem insatisfeitos

Entre os caminhoneiros, porém, a leitura é de que Silva e Luna é apenas "mais do mesmo" - e não de uma forma positiva. "Não mudou nada até agora. Foi uma coisa mais política do que efetiva", afirma Wallace Landim, o Chorão, presidente da Abrava (Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores).

Lideranças da categoria articulam uma greve para o próximo domingo (25), tendo como uma das pautas o preço do diesel. O governo minimiza e afirma que há "zero chance" de paralisação.

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