O Brasil de Ike a Obama (Editorial)
Mesmo com uma guena orçamentária em Washington, insurreições no Oriente Médio e uma encrenca nuclear no Japão, Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, decidiu manter seu programa de viagens à América Latina, tendo o Brasil como sua primeira escala no sábado. Algo mudou. Antes, quando um espirro na economia americana provocava pneumonia nos países ao sul do Rio Grande, um presidente dos Estados Unidos precisaria de muito menos para cancelar uma visita dessas. No que diz respeito ao Brasil, salvo algum anúncio bombástico e inesperado, a visita dificilmente escapará da sina que marca essas excursões protocolares. Um afago no ego nacional, encontro com celebridades, análises benignas e construtivas do saldo da reunião entre os mandatários Dilma Rousseff e Obama.
Para encontrar algo de substancialmente diferente na atual visita, é preciso ir além das versões oficiais e constatar que, se alguma coisa mudou nestas últimas décadas, foi a América Latina e, nela, especialmente o Brasil. Obama visita uma região cuja economia, do México à Patagônia, tem o mesmo tamanho da chinesa. O presidente americano desembarcará em um Brasil que é a sétima economia do planeta, líder em biocombustíveis e que em breve se tornará um dos três maiores exportadores de petróleo do mundo, já sendo credor líquido internacionalmente e dono de um dos mais atraentes mercados internos. A esses bálsamos brasileiros, acrescente-se um território mais amplo do que a porção continental dos Estados Unidos, ocupado por uma população étnica, religiosa e culturalmente unida, governada por uma democracia imperfeita, mas estável e funcional.
Quando o presidente Dwight "Ike" Eisenhower visitou o Brasil em 1960, o PIB dos Estados Unidos era 34 vezes maior do que o brasileiro. Essa diferença caiu para sete vezes em 2011. Ela ainda é grande, mas pequena o suficiente para que Dilma e Obama discutam não mais sobre os mecanismos de ajuda norte-sul, mas o modo como os dois países, comungando os mesmos ideais, podem encontrar também uma gama mais ampla de interesses comuns na acirrada batalha mundial do comércio e das complexas alianças geopolíticas. Que contraste!
Edorial Revista Veja