Pacote leva consumidor a antecipar compra
Para escapar do aperto no crédito, o consumidor antecipou a compra do carro novo e as vendas do fim de semana cresceram até 40% na comparação com um sábado e domingo normais. Apesar de o pacote de arrocho do crédito ter sido baixado na sexta-feira, as novas regras de crédito entraram em vigor ontem.
“O consumidor antecipou as compras e ampliamos as vendas em 40%”, afirma Marcos Leite, gerente vendas da Amazon,com duas revendas da marca Volkswagen. A concessionária Palazzo, da GM, também registrou acréscimo semelhante nas vendas. “Entre novos e usados, vendemos 133 veículos”, conta o diretor de vendas da empresa, Roberto Sinicio.
A mudança de patamar das taxas de juros nos financiamentos sem entrada deve, na opinião de Leite, provocar uma realocação do mercado. Mas isso não significa uma migração para os consórcios ou planos de leasing. “O leasing também foi afetado pelas novas regras e consórcio não entrega o carro na hora e necessita de um lance que pode equivaler à entrada”, pondera. Na análise do executivo, o que pode ocorrer é uma migração das compras de veículos para pessoas jurídicas, já que as regras não afetaram os financimentos para empresas.
Érico Ferreira, presidente da Acrefi, associação que reúne as financeiras, diz que as vendas a prazo, puxadas especialmente pelos veículos, não vão crescer no ano que vem.
Também o presidente da Volkswagen do Brasil, Thomas Schmall, acredita que as medidas anunciadas pelo Banco Central (BC) vão ter impacto no mercado. Inicialmente, ele projetava um aumento de 5% a 6% nas vendas de carros novosem 2011, mas reviu as previsões para 4% a 5%. Os planos da marca de ampliar a produção no País, porém, não foram alterados.
“As medidas certamente terão um impacto nas vendas, mas não podemos avaliar ainda números”, diz o executivo. Segundo ele, o crescimento da indústria brasileira foi baseado no mercado doméstico e, “se o governo tira dinheiro da economia, certamente será mais complicado”.
Já o presidente da Associação Nacional do Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Cledorvino Belini, não tem grande preocupação, ao menos num primeiro momento em relação às medidas do BC, que aumentam o compulsório dos bancos e obrigam valores maiores de entrada para financiamentos acima de 24 meses. “As medidas são transitórias, para um equilíbrio da inflação, e entendemos que devem ser de curto prazo”, diz o executivo que também preside a Fiat. Pelos seus cálculos, uma prestação que gira hoje em torno de R$ 700 ao mês deve subir para cerca de R$ 770. Belini informa ainda que a média de prazo dos contratos para carros novos é de 48 meses e que planos acima de 60 meses têm pouca representatividade nas vendas.
Motocicletas. Além dos carros e dos eletrodomésticos, outro segmento que será afetado pelas novas regras é o de motocicletas. Impulsionado pela compras da população de baixa renda, as vendas de motocicletas que custam na faixa de R$ 6 mil estavam vigorosas nos últimos meses. Odair Donatti Júnior, gerente de vendas da Izi Motos, que revende a marca Suzuki, conta que as taxas de juros nos planos em 48 prestações, sem entrada, que oscilavam entre 1,95% e 2,05% ao mês, agora variam entre 2,3% e 2,98%, dependendo da instituição financeira.“ Metade dos bancos elevaram as taxas e o mercado vai se ajustar.” (O Estado de S. Paulo)