Pacote quase dobra juros para veículos
Quase dobraram as taxas de juros cobradas dos financiamentos de veículos nos planos sem entrada depois que o Banco Central (BC) baixou o pacote de arrocho do crédito na sexta-feira. O aumento dos encargos financeiros deve provocar queda de até 20% nas vendas de carros zero-quilômetro e atingir principalmente o consumidor de baixa renda que, por falta de recursos, optava pelos planos longos e sem entrada.
Boa parte dos bancos que financia carros novos já soltou as novas tabelas, que passaram a valer ontem. Mas, procurados pelo Estado, Banco Votorantim, Santander, Itaú Unibanco e Bradesco não deram informações sobre as novas condições de crédito. Também a Associação Nacional das Empresas de Montadoras (Anef) não quis se manifestar. A Anef relatou apenas que, em setembro, último dado disponível, 46% das vendas de veículos foram feitas por meio do Crédito Direto ao Consumidor (CDC). De acordo com concessionárias de veículos, antes do pacote, 60% dos financiamentos eram sem entrada.
Pesquisa da MSantos, agência de promoções e pesquisas automotivas, feita com 40 revendas de São Paulo, mostra que as taxas de juros para financiamentos sem entrada acima de 24 vezes variam desde ontem entre 1,6% e 2,5% ao mês, dependendo do prazo. Até domingo, os juros oscilavam entre 1,3% e 1,4%, nos planos sem entrada.
Essa elevação de até um ponto porcentual no juros vai pesar no bolso do consumidor, diz o economista responsável pela pesquisa, Ayrton Fontes. Com as mudanças, a prestação de Celta 1.0, bicombustível, financiado em 60 meses, sem entrada sobe de R$ 610 para R$ 762. Ao fim de cinco anos, o comprador terá desembolsado R$ 9.120 a mais pelo carro, em razão da alta dos juros, calcula Roberto Sinicio, diretor de Vendas da Concessionária Palazzo, da GM.
Os juros aumentaram apenas nos planos sem entrada e as taxas ficaram praticamente inalteradas nos financiamentos com entrada. Nesse caso, a contrapartida para não subir as taxas é a exigência de uma parcela de 20% do valor do veículo nos planos em 36 meses, de 30% nos financiamentos em 48 vezes e de 40% nos de 60 meses. Nos financiamentos em 24 meses não há exigência de entrada e a taxa de juros foi mantida.
Eletrodomésticos. A freada do crédito deve ter impacto negativo também nas vendas de eletrodomésticos e eletrônicos, afirma Lourival Kiçula, presidente da Eletros, organização que reúne as indústrias do setor.
Procuradas pela reportagem, as redes varejistas informaram, no entanto, que a mudança das regras não afeta as suas vendas porque os prazos do crediário já não eram longos. Mas, no último fim de semana, as consultas para as vendas à vista cresceram mais de 20% sobre o anterior, segundo dados preliminares da Associação Comercial de São Paulo, e superaram o crediário. (O Estado de S. Paulo)