Privatizada, BR Distribuidora não tem controlador definido

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Folha de S.Paulo
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O conselho de administração da BR Distribuidora vai passar por uma completa reformulação para refletir a nova composição acionária da companhia após sua privatização.

A Petrobras pretende manter apenas três assentos no colegiado, composto por nove membros. Os seis conselheiros restantes devem ser indicados pelo mercado.

Os funcionários, que detinham uma vaga, perdem sua cadeira. O governo, que vinha sendo representado pelo Ministério da Economia, também deixa o conselho.

As mudanças devem ocorrer dentro de pouco mais de 30 dias em uma assembleia geral extraordinária ainda a ser convocada, embora o mandato do atual conselho só expire no ano que vem. O objetivo é implementar rapidamente a nova governança.

Com 37,5% de participação na BR Distribuidora, caso o lote suplementar de ações seja efetivamente vendido, a Petrobras continuará a ser uma minoritária relevante, mas deixa de ter o comando. Hoje a estatal detém cinco das dez vagas do conselho e conta com o apoio do representante do governo.

Após a privatização, para conseguir emplacar suas teses dentro da BR Distribuidora, a Petrobras precisará do aval de pelo menos dois representantes dos demais acionistas. Ainda não se sabe se algum fundo isoladamente adquiriu ações suficiente para ter direito a vagas no conselho.

Na prática, a governança da BR Distribuidora já vinha mudando desde a abertura de capital durante o governo Michel Temer. Na ocasião, a estatal já havia se comprometido a indicar membros com independência para boa parte de suas vagas.

No entanto, como detinha 70% das ações, a Petrobras tinha poder de veto durante a assembleia de acionistas. Agora a BR se transforma de vez no que é chamado de corporação, uma companhia sem controle definido.

No Brasil, já existem outras empresas desse tipo, como a gigante de alimentos BRF, as varejistas BR Malls e Renner, a empresa de tecnologia Totvs, etc.

“Torna-se uma corporação foi uma sábia decisão da BR Distribuidora”, avalia Mauro Cunha, presidente da Associação de Investidores no Mercado de Capitais (Amec) e ex-conselheiro da Petrobras.

Ele salienta que, ao deixar de ser estatal, a BR terá mais flexibilidade para contratações de funcionários e compra de matérias-primas, o que promete reduzir os custos, e para levantar capital no mercado via oferta de ações, já que não haverá a preocupação do governo de manter o controle.

Esse último item tende a ser bastante relevante em um setor intensivo em capital como o de distribuição de combustíveis.

Segundo Cunha, a BR também fica mais blindada de decisões políticas que afetem o negócio. Contudo, passa a estar exposta ao maior risco de toda “corporation”, que é ser “sequestrada” por uma administração equivocada, já que não há o poder de veto do dono.

Cálculos internos da empresa apontam um grande potencial de aumento nas margens de lucro graças à redução de custo, o que vem sendo percebido pelos investidores, que estão puxando os preços do papel.

Hoje a relação margem/geração de caixa da BR é de R$ 78 por metro cúbico de combustível, comparado, por exemplo, com R$ 115 da rival Ipiranga. A tendência é que essa relação se estreite gerando valor para os acionistas.

Segundo a ANP, a participação da BR no mercado de venda de gasolina estava em 24,12% em 2018, seguida de perto pelas concorrentes Raízen/Shell com 20.45% e pela Ipiranga com 19,53%.

Especialistas ouvidos pela reportagem, no entanto, não acreditam que apenas a privatização da BR será suficiente para promover mais competição no mercado, baixando o preços dos combustíveis para o consumidor.

Eles afirmam que essas mudanças só devem ocorrer com mais vigor quando a Petrobras efetivamente cumprir o plano de privatizar também suas refinarias, deixando de ser a única fornecedora de gasolina e óleo diesel do mercado brasileiro.