Produtores vão a Bolsonaro pedir aumento da mistura de biodiesel no diesel
Os produtores de biodiesel estão tentando marcar uma reunião ainda esta semana com o presidente Jair Bolsonaro para expor os impactos da decisão tomada pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) de fixar a mistura do biocombustível no diesel fóssil em 2022 em 10%. O setor reclama de desinformação por parte do governo federal para adotar tal posição, considerada “inesperada e inexplicável”, e acredita na reversão da medida, sem descartar uma ação na Justiça para isso.
“Para nós, efetivamente, é inesperado tudo isso. A resolução do CNPE já nos autorizava a produzir para mistura de 13% desde março, e as empresas se prepararam para isso”, disse o presidente do Conselho de Administração da Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil (Aprobio), Francisco Turra, ao Valor.
Segundo previsto em lei, a mistura passaria para 14% a partir de março de 2022. O ex-ministro da Agricultura disse que a decisão de manter a mistura 10% contraria o discurso feito pelo governo na COP26, em Glasgow, em defesa dos programas de descarbonização e de energia limpa.
“O emprego verde, que foi proclamado em prosa e verso como uma coisa maravilhosa, para onde vai? Vai para outros países, não sei com que cor", pontuou.
Queda de receita
Segundo a Aprobio, a manutenção da mistura em 10% (aquém dos 13% já previstos e dos 14% estimados para 2022) vai encolher o faturamento das usinas em US$ 2,5 bilhões. Outros US$ 1,2 bilhão serão gastos para importar diesel fóssil para substituir esse percentual que deixará de ser abastecido com o biocombustível nacional. A produção será de 30% a 40% menor que o projetado — ficando em 6,2 bilhões de litros, ao invés de subir para 8,6 bilhões.
“O Brasil não á autossuficiente em diesel e vai ter que importar mais. Diesel significa poluição, gás carbônico. Se o Brasil produz biocombustíveis, qual é o interesse?”, questionou.
Turra disse que o argumento de que a mistura com biodiesel aumenta o preço final do combustível aos consumidores não se sustenta. Segundo ele, há desinformação sobre o assunto na equipe econômica e na Casa Civil. “Esse argumento do temor do preço não tem consistência, o impacto é insignificante”, disse.
Desinformação sobre preços
Nas contas do setor, o biodiesel teve participação de 13,7% na formação do preço final do diesel vendido nas bombas em outubro. No início do ano, o percentual era de 13,6%. “Variou apenas 0,1 ponto percentual de janeiro a outubro. O aumento aconteceu, de fato, no diesel fóssil. É inexplicável e vemos que há resistência da área econômica e da Casa Civil do governo, mas tem desinformação”, avaliou.
O presidente do conselho da Aprobio ainda alertou que o corte na mistura do biodiesel em 2022 poderá refletir em diversos elos da cadeia. “Estamos falando na maior safra de soja da história no Brasil, Estados Unidos e Argentina. Vai sobrar e vamos ter uma série de problemas, até mesmo para o produtor de soja. Estamos complicando a vida do agricultor”, argumentou. Segundo ele, está “enganado” quem pensa que a China e demais países asiáticos irão importar mais do que 100 milhões de toneladas.
Com esmagamento menor, além da ociosidade e dos prejuízos nas usinas, será produzido menos farelo de soja, usados nas rações animais. “Com menos volume, haverá pressão de preço, que se reflete na mesa do consumidor brasileiro”, relatou.
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Autor/Veículo: Valor Econômico