Reajuste da gasolina não deve igualar defasagem frente preços externos
Mesmo com a defasagem de cerca de 25% em reais entre o preço da gasolina aqui e lá fora, o reajuste do combustível na usina pela Petrobras - visto como inevitável após declarações da nova presidente da estatal, Maria das Graças Foster - não deve ser feito nessa intensidade, pois causaria um impacto adicional de mais de um ponto percentual na inflação ao consumidor. Os cálculos e a avaliação são do economista Daniel Lima, da Rosenberg & Associados. “O impacto no IPCA seria muito grande”, diz. Lima observa que a diferença entre os preços internos e externos vem crescendo desde julho de 2011, o que o permite concluir que o motivo do reajuste a ser feito é outro. “Acredito que seja para um ajuste de caixa da Petrobras. Não arrisco um palpite sobre o valor do ajuste a ser feito, pois depende de muitos fatores políticos, mas como no ano passado, o governo pode mexer na Cide [Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico] para contrabalançar o impacto no varejo”. Em novembro, a Petrobras aumentou os preços da gasolina e do óleo diesel em 10% e 2%, respectivamente, movimento seguido por redução da Cide em igual proporção, tornando o efeito ao consumidor nulo. Segundo Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, um novo reajuste de 10% na gasolina, caso não seja novamente contrabalançado pela Cide, causaria um impacto de cerca de meio ponto percentual na inflação oficial. “A questão é qual o timing correto para se fazer isso. Essa não é uma decisão econômica, mas sim política”. Para Vale, o momento correto seria o de IPCA “mais baixo possível”, o que, em sua projeção, deve ser alcançado no meio do ano. O analista da MB destaca a importância da alta do petróleo na inflação, que, em sua opinião, não deve ser contrabalançada por trajetórias mais favoráveis de commodities agrícolas e metálicas. “Na agricultura, a relação entre estoque e consumo é muito baixa, além dos efeitos climáticos que este ano não estão dando ajuda nenhuma. Mas no momento, o que é mais preocupante por afetar toda a cadeia industrial é o petróleo”, ressalta. Um novo aumento da gasolina nas refinarias, no entanto, não deve alterar a projeção da MB para o IPCA em 2012, que está em 5,5%. “Analistas que estão trabalhando com números mais baixos provavelmente terão que voltar para a casa dos 5,5%, mas o nosso cenário para o final do ano não muda nada”.
Valor Econômico