Retomada inverte cena na produção de caminhões

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Esgotado o estoque da linha antiga, conhecida como Euro 3, a melhora nas vendas de caminhões começa a puxar uma reação na atividade das fábricas. As paradas de produção e cortes de mão de obra, que marcaram o setor no ano passado, começam a dar lugar a jornadas estendidas e maior uso de capacidade instalada tanto nas montadoras como na cadeia de fornecedores.
 
Após reintegrar cerca de 1,5 mil operários que estavam parados desde junho, a Mercedes-Benz retomou, no início deste mês, o segundo turno de trabalho na fábrica de caminhões em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, que já faz hora extra: a linha manteve a produção no último fim de semana.
 
A reação do mercado começou em outubro e, em janeiro, a produção alcançou o maior nível em dez meses (veja gráfico ao lado). Para este ano, a indústria, representada pela Anfavea - a entidade que representa as montadoras instaladas no país - prevê um crescimento superior a 7% nas vendas de caminhões.
 
Mais otimistas, as concessionárias de veículos, segundo previsões da Fenabrave, projetam uma evolução de 16% nesse mercado. Ainda que distantes do recorde de 2011 - quando quase 173 mil unidades foram vendidas -, as estimativas apontam para uma aproximação dos volumes de 2010, quando 157,7 mil caminhões foram licenciados no país.
 
Desde o último trimestre de 2012, fornecedores notam uma melhora nas encomendas das montadoras. A MWM diz que teve no mês passado o melhor janeiro de sua história, com quase 11 mil motores produzidos. Já a Cummins, que também faz motores a diesel, informa que sua produção está evoluindo a um ritmo de 18% neste ano.
 
No ano passado, tanto a MWM como a Cummins lançaram mão de semanas curtas - com apenas quatro dias úteis de produção - para adequar a produção à menor demanda das montadoras de caminhões. Neste ano, as duas empresas dizem que fazem horas extras de trabalho para atender aos pedidos dos fabricantes.
 
Ontem, a Anfir, entidade que abriga os fabricantes de implementos rodoviários, informou que, após a queda de 16% no ano passado, prevê para 2013 um crescimento de 6,5% nas vendas das carretas usadas nos caminhões para o transporte de carga. "Temos empresas operando com o segundo e terceiro turno de trabalho, em alguns casos. A carteira de encomendas já alcança três meses. Para nós, 90 dias é um bom prazo", afirmou Alcides Braga, presidente da Anfir, que também aposta numa retomada dos investimentos e contratações no setor.
 
Para a associação, medidas de apoio à produção - como a desoneração na folha de pagamento na indústria - e a estabilidade nas regras de financiamento abrem a perspectiva de reação dos negócios neste ano.
 
Em 2012, a produção de caminhões marcou queda de 40,5%, enquanto as vendas cederam 19,5%. Além da desaceleração na atividade industrial, o desempenho repercutiu a transição na tecnologia dos motores dos caminhões, que tornaram os veículos menos poluentes, porém 15% mais caros. As mudanças foram feitas para adequar os caminhões à nova legislação de emissões veiculares, conhecida popularmente como Euro 5.
 
Antevendo o aumento de preço, as transportadoras anteciparam compras, o que levou a um recorde de emplacamentos em 2011, mas, como consequência, uma forte contração no ano seguinte. "Foi como se tivéssemos 15 meses de venda em 2011 e apenas oito ou nove meses no ano passado", diz Thomas Püschel, gerente de vendas da MWM.
 
A virada só veio após cortes nos juros dos financiamentos de bens de capital, cujas taxas foram mantidas abaixo da inflação neste ano. Paralelamente, compras de caminhões feitas pelo governo para equipar as Forças Armadas deram força ao setor.
 
Para Luis Afonso Pasquotto, presidente da Cummins na América do Sul, a desconfiança das transportadoras em relação ao abastecimento dos caminhões de motor Euro 5 diminuiu em virtude do aumento na rede de postos que vendem o diesel utilizado por esses veículos. Isso tem ajudado a diminuir à resistência à tecnologia.
 
"Os fatores que travavam o mercado foram resolvidos", afirma Pasquotto, que prevê para este ano um crescimento de 30% na produção dos motores da Cummins destinados a caminhões.
 
Valor Econômico