Ricos e classe média ganham mais peso
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O perfil de consumo dos brasileiros vai mudar de novo. O topo da pirâmide - a classe média e os ricos - ganha mais peso, chegando a 37% dos domicílios em 2020. Essa fatia era de 29% em 2010 e de 23,8% em 2000. Isso significa, mesmo com a economia andando mais devagar, que uma nova massa de brasileiros tende a abrir mais o bolso, nos próximos anos, para escolas particulares, serviços financeiros, transporte, telecomunicações e lazer.
Rápidas mudanças já vêm ocorrendo no país, em especial naqueles domicílios onde a renda mensal supera R$ 2,5 mil: o suco concentrado é trocado por bebidas prontas para beber, o gasto com celular pós-pago cresce e o primeiro carro entra na garagem. Esse consumidor surgiu porque na década passada o número de lares pobres encolheu de 10,4 milhões para 6,6 milhões e uma nova classe média começou a tomar forma.
Mas o mercado consumidor, segundo um estudo do Boston Consulting Group, caminha agora para uma nova configuração.
"O grande movimento é a família da classe C migrando para a B", diz Olavo Cunha, sócio e diretor da Boston Consulting Group, que realizou um amplo estudo sobre o assunto, cruzando as informações da mais recente Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), do IBGE, com sua própria base de dados e entrevistas com 100 famílias nas cidades de São Paulo, Curitiba, Salvador, Macaé e Paranaguá.
A migração da classe C para a B ocorre quando a renda mensal da família dá um salto para a faixa entre R$ 5 mil e R$ 7,5 mil. Os domicílios ricos, no estudo do BCG, têm renda familiar acima de R$ 7,5 mil.
Até 2020, os consumidores desses dois grupos - classes média e alta - estarão em 37,3% dos lares no país, e terão 77,8% da renda nacional nas mãos. Os pobres e aqueles recém-saídos da pobreza ficariam em 62,6% dos domicílios, mas com apenas 22,2% da renda.
O "coração" do estudo do BCG é justamente mapear quais produtos e serviços esse novo mercado em formação está consumindo. Foram detectadas quatro "ondas" - ou como os consumidores se comportam dependendo do seu nível de renda (ver quadro ao lado).
Na primeira onda, que reúne os brasileiros pobres e os recém-saídos da pobreza, boa parte dos gastos vai para celular pré-pago, produtos eletrônicos e de linha branca. Na quarta onda, os ricos elevam gastos com artigos de luxo como carros importados e imóveis.
"O brasileiro médio, agora, está na segunda onda", diz Cunha, referindo-se aos emergentes da classe média que estão gastando mais com escolas privadas e celulares pós-pagos. E em 2020 - quando os gastos das famílias, nas contas do BCG, podem chegar a R$ 3,2 trilhões (ou US$ 1,6 trilhão) - vai aumentar a parcela de consumidores "surfando" a terceira onda, quando começa a aumentar a demanda por produtos financeiros como fundos mútuos e ações, viagens de avião e hotéis.
A demanda por serviços, nos próximos anos, tende a crescer mais do que por bens duráveis. "Vamos ver gastos maiores em educação, telecomunicações e transporte e menos em comida e eletrodomésticos", diz Rim Abida, que participou da elaboração do estudo do BCG, ao lado de Cunha e Simon Cheng.
As famílias ricas e as já estabelecidas na classe média responderão por mais de 85% do aumento dos gastos nesta década - entre 2010 e 2020. Esse grupo de consumidores também estará mais espalhado geograficamente: 405 municípios vão abrigar 75% da classe média e da alta renda em 2020; essa fatia hoje está em 345.
O interior dos Estados e o Nordeste devem abrigar boa parte dessa nova massa de consumidores, com mais dinheiro no bolso.
Camaçari, na região metropolitana de Salvador, é exemplo de cidade na qual as classes média e alta vão crescer de forma expressiva. Nessa cidade baiana o emprego é garantido pelo pólo petroquímico e outras empresas como a montadora de veículos Ford.
Brasileiros ricos e de renda média também devem se multiplicar no sudeste do Pará - em Parauapebas está a maior reserva de ferro do mundo, operada pela Vale; no oeste da Bahia, onde o agronegócio mostra expansão rápida; e no subúrbio de Macaé (RJ), onde a Petrobras tem investido.
O estudo também mostra onde as empresas de bens de consumo não deveriam apostar muitas fichas pois a economia local tem tido um desempenho medíocre: sul da Bahia, noroeste do Espírito Santo, centro do Estado do Rio de Janeiro e a região montanhosa de Santa Catarina.