Setor de cartões prepara oferta de saque no varejo

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Valor Econômico
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A indústria de cartões está desenvolvendo dois produtos que permitirão retirada de dinheiro em estabelecimentos comerciais, via rede das maquininhas, sendo eles o “saque puro” e a “compra com troco”. Coordenado pela Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), o projeto prevê uma padronização do mercado para a oferta da modalidade, que deve estar disponível neste ano.

Em junho, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou que a plataforma de pagamento instantâneo (Pix) em desenvolvimento pelo regulador vai oferecer saque no varejo. No entanto, de acordo com executivos do setor de cartões, o produto da indústria será complementar, tendo como alvo substituir a rede de caixas eletrônicos (ATMs).

“A ideia é usar a infraestrutura já montada de cartões, que tem mais escala e é mais barata do que a rede de ATMs”, disse ontem Daniel Vilela, diretor de novos negócios da bandeira Mastercard, em webinar da Abecs. Estima-se que 12 milhões de estabelecimentos comerciais poderiam oferecer o saque.

Em um primeiro momento, será possível fazer o saque com cartões de débito e pré-pagos, com liquidação no mesmo momento ou no dia seguinte, dependendo do horário. O setor de cartões não excluiu permitir o saque com cartões de crédito, mas faz análises para checar a viabilidade.

No “saque puro”, o cliente passa o valor desejado na maquininha e recebe as cédulas, uma vantagem para o varejo, que não tem o custo de transporte e segurança para depositar as quantias em conta. Na “compra com troco”, passa o valor total do que adquiriu e quanto quer sacar, mas fica com o troco.

A forma de remuneração da transação será inversa à tradicional. Hoje, as bandeiras definem a taxa de intercâmbio que as credenciadoras cobram do varejista para remunerar os emissores. No saque no varejo, haverá o “intercâmbio reverso”, em que a bandeira vai definir quanto os emissores vão pagar para a credenciadora pelo serviço, que repassará uma fatia para o estabelecimento comercial.

Os valores pagos pelos emissores não foram divulgados, mas as estimativas apontam para um terço do saque em caixa eletrônico, que está em média em R$ 3,20 por transação, dependendo da escala. Haverá valores mínimos e máximos para saque, considerando a remuneração dos participantes do negócio e a segurança da transação. Será permitido “chargeback”, o cancelamento da operação.

“A pandemia mostra que é necessário desenvolver novas ferramentas que tragam segurança, baixo custo e inclusão financeira”, disse Cláudio Guimarães Júnior, diretor executivo da Associação Brasileira de Bancos (ABBC). Ele ressaltou que o saque no varejo existe em outros 31 países.

Francisco dos Santos, diretor da credenciadora Cielo, disse que tecnologicamente é possível oferecer o produto atualizando os serviços disponíveis nas maquininhas. “Há possibilidade de o estabelecimento comercial ficar com pedaço da remuneração pela transação, mas se ele não quiser ou não tiver as cédulas para saque, não teria nenhuma penalidade”, afirmou.

Segundo Raul Moreira, diretor-executivo de tecnologia da informação, produtos e operações do banco Original, o saque no varejo é uma solução de transição, diante dos desbancarizados. “Não há condições de depender apenas da rede de ATMs, precisamos de uma solução transitória para o mundo digital”, afirmou o executivo.