S&P revisa perspectiva de nota do Brasil para 'negativa'
A decepção com a taxa de investimentos do Brasil, o baixo crescimento do país e uma política fiscal expansionista, graças à queda no resultado primário e ao avanço dos bancos públicos, foram os fatores que levaram a agência de classificação de risco Standard & Poor\'s (S&P) a revisar a perspectiva da nota soberana do Brasil de "estável" para "negativa". É o que afirmou Sebastian Briozzo, diretor de rating soberano da S&P, em entrevista ao Valor PRO, o serviço de informações em tempo real do Valor. Mesmo com a piora na perspectiva, o rating de longo prazo do Brasil foi mantido em "BBB", em moeda estrangeira, dentro do "grau de investimento" da agência. A mudança na perspectiva indica que, dentro dos próximos dois anos, a S&P pode rebaixar a nota do país. "O grande fator que estaremos olhando para um possível rebaixamento é a evolução da situação fiscal", diz o analista.
"Em novembro de 2011, quando elevamos a nota do país para \'BBB\', nossa projeção era que os investimentos representariam seguramente mais de 20% do PIB hoje. Isso não aconteceu e é algo que ajudaria o país a crescer a taxas mais altas", diz Briozzo.
"Não é uma mudança de rating. É de perspectiva. Vamos estudar com calma o documento e acompanhar essa questão", afirmou ontem o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, ao comentar o anuncio feito pela agência. Segundo o secretário, o Brasil vem crescendo mais que a média internacional, há demonstrações claras de confiança na economia e a política fiscal anticíclica tem sido suficiente para reduzir a relação entre dívida líquida e PIB.
Para Briozzo, a perspectiva negativa reflete os riscos da estratégia que o governo brasileiro tem usado para incentivar o crescimento do país. Ele cita os riscos, por exemplo, de se usar os bancos públicos como ferramenta anticíclica na economia. "Os bancos públicos brasileiros são bem administrados, mas qualquer instituição financeira em que o crédito cresça a taxas de 30% ao ano, está sujeita a riscos", diz.
O analista diz que há uma reticência do setor privado em investir no país, em parte graças à perda de credibilidade do governo. Também pondera que a desaceleração da economia chinesa traz impactos negativos para todos os emergentes e outros países com rating soberano semelhante ao do Brasil. "Só que os demais países da América Latina comparáveis ao Brasil têm um espaço fiscal aior e não sofreram baixas taxas de crescimento como as do Brasil."
O movimento da S&P reforça o crescente desconforto dos investidores. No espaço de um mês, o custo de proteção contra um calote da dívida brasileira, conhecido como "Credit Default Swap" (CDS), registrou a maior alta entre as principais economias do mundo. Valor Econômico