Usineiros cobram políticas claras do governo
Vistas como vilãs e responsáveis pela valorização dos preços do etanol no mercado interno, as usinas de cana-de-açúcar cobram do governo medidas que possam suportar o crescimento do setor no médio e longo prazo. Entre as políticas pendentes estão ajustes no ICMS, melhorias na infraestrutura e a falta de garantias que justifiquem novos investimentos.
As indústrias não aceitam o argumento de que o preço do combustível subiu porque houve uma opção pelo açúcar em detrimento do etanol. Na avaliação do setor, o problema seria uma oferta de produto - açúcar e etanol - insuficiente para atender a crescente demanda do mercado.
Apesar de os preços do açúcar terem subido quase 40% nos últimos 12 meses no mercado internacional, o presidente da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), Marcos Jank, diz estar "errada a leitura de que as usinas foram fazer açúcar e deixaram de lado o etanol. "O problema foi ter feito menos açúcar e menos etanol", afirma Jank.
O representante das usinas lembra que não existe muito espaço para "migração" de um produto para outro, tanto que no ano 2000 metade da produção de cana era destinada para o açúcar e a outra metade para o etanol. Em 2008, 60% da cana foi para o combustível e 40% para o adoçante. Hoje, 55% da safra é destinada para a fabricação de etanol e 45% para o açúcar.
Apesar de a flexibilidade de produção ser limitada, o interesse no etanol tem se reduzido cada vez mais. A estimativa de uma produção menor de etanol hidratado na safra 2011/12 é um sinal da falta de estímulo. A expectativa da Unica é que a oferta do combustível utilizado diretamente nos automóveis seja de 17,2 bilhões de litros, 4,1% a menos que no ciclo anterior.
Entre outros motivos, o interesse reduzido na produção do combustível é a trava imposta pelas cotações da gasolina, controladas pelo governo. Mesmo com a forte valorização dos preços do petróleo no mercado internacional, o combustível praticamente se manteve estável nos últimos cinco anos, acumulando no período ganhos de apenas 7%.
Na avaliação do analista Arnaldo Corrêa, Archer Consulting, tanto o governo quanto as usinas sofrem pela falta de planejamento e de uma política de longo prazo. Para ele, o governo tem agora que enfrentar um possível aumento da demanda por gasolina, que será compensada por mais importações. Com a cotação do petróleo em alta, a solução seria pagar caro na matéria-prima para vender combustível com "prejuízo". "É isso ou aumentar a gasolina, gerando assim inflação", afirma Corrêa.
Se o governo exerce seu poder sobre os preços da gasolina, no caso do etanol essa medida não é vista com bons olhos. Para o consultor Júlio Maria Borges, diretor da Job Economia, passar o controle do etanol para o governo seria um grande retrocesso para o setor. "Do jeito que as coisas estão ninguém está perdendo, nem o consumidor. Ele [consumidor] se beneficia durante a maior parte do ano, com exceção da entressafra", afirma.
Para as usinas, estar sob o controle e fiscalização da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), como determinou a presidente Dilma Rousseff, não é um "problema". "Se haverá ou não a transferência do controle para a ANP essa é uma questão de governo. O que falta agora é o setor crescer no mesmo ritmo de antes da crise, mas os investidores estão mais cautelosos", diz Jank.
Valor Econômico