Volta de tributos deve puxar inflação em 2023, dizem economistas

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O Estado de S.Paulo
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Se o corte de impostos alivia a inflação neste ano, a mudança deve significar uma alta em 2023. Quando o governo federal zerou o PIS e o Cofins sobre o etanol e a gasolina, o Itaú Unibanco já elevou sua estimativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no próximo ano de 4,2% para 5,6%. A revisão foi feita porque a cobrança dos impostos será retomada a partir de janeiro, puxando os preços para cima novamente, e também devido à sensação de que a inflação já estava mais disseminada na economia.

Para o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, a inflação no próximo ano “está caminhando para ficar entre 5% e 6%”. “No curto prazo, pode haver um recuo na inflação. Mas tenho dificuldade de saber se essa queda não será limitada por conta do cenário de câmbio.”

A preocupação de Vale é que a diminuição na arrecadação desencadeie uma maior desconfiança do mercado em relação à capacidade de o governo pagar suas dívidas. Isso poderia fazer com que parte dos investidores deixasse o Brasil, desvalorizando o real em relação ao dólar – o que pressionaria a inflação.

QUESTÃO FISCAL. O economista afirma ainda que a situação fiscal deve permanecer controlada neste ano, dado que a arrecadação está em alta devido ao aumento do preço das commodities. O entrave pode vir em 2023, pois a previsão é de que a economia mundial comece a desacelerar, fazendo com que a cotação das commodities caia – reduzindo a arrecadação também. “O mais complicado é que você está cortando algo (o ICMS) de forma permanente. Aí, no ano que vem, a alíquota será mais baixa em cima de uma arrecadação mais baixa também. Isso coloca peso na situação fiscal”, diz Vale.

Para o economista Daniel Karp, do Santander, ainda é difícil calcular como a questão fiscal vai interferir na inflação, dado que o cenário internacional também pode modificar o câmbio.

Já na visão do economista André Braz, coordenador de índice de preços da Fundação Getulio Vargas (FGV), “qualquer medida que não dure para 2023 acaba impondo uma inflação mais alta no ano que vem”.

Braz destaca que as incertezas globais também podem pressionar os preços em 2023, como já ocorreu neste ano. Ele lembra que, no início de 2022, os economistas estavam otimistas com a inflação e não imaginavam que ela poderia chegar perto de 10%. A guerra na Ucrânia, porém, levou a cotação do petróleo e a inflação a outro patamar. “Isso pode se repetir no ano que vem a depender do desenrolar dessas fontes de incerteza e de como vai ficar essa questão fiscal.” •

O Estado de S.Paulo Paulo Cunha, ex-presidente do Grupo Ultra, morre aos 82 anos

O executivo Paulo Guilherme Aguiar Cunha, ex-presidente do Grupo Ultra e da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), morreu aos 82 anos na madrugada deste domingo, 3.

Cunha teve uma breve passagem pela Petrobras no início de sua carreira e ingressou no Grupo Ultra ao final da década de 1960, onde se desenvolveu na carreira de executivo. Cunha assumiu o cargo de presidente da empresa, em 1981, no qual permaneceu até 2007, e, anos mais tarde, chegou à posição de presidente do conselho do grupo. Um dos marcos de sua liderança foi a abertura de capital da empresa de forma simultânea em São Paulo e em Nova York, em 1999.

Sua gestão foi marcada pelo crescimento agressivo do Grupo Ultra, que comprou integralmente as ações da Oxiteno, assim como a Shell Gás, a Canamex, a União Terminais, a Ipiranga e a Texaco. Hoje, o Grupo Ultra, também conhecido pelo nome Ultrapar, é dona do posto Ipiranga e da Ultragaz.

A empresa também atua na produção de especialidades químicas, por meio da unidade especializada Oxiteno. Em setembro de 2013, o Grupo Ultra entrou no varejo farmacêutico com a compra da Extrafarma — cuja venda para a Pague Menos por R$ 700 milhões foi recentemente aprovada pelo Cade.

Em maio de 1989, com o fim do regime militar, Cunha estava entre os 30 empresários que fundaram o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial para estimular e orientar novas políticas públicas para a indústria brasileira.

“Paulo Cunha deixa um legado de ética, visão de longo prazo, austeridade na vida pessoal e profissional, valorização das pessoas e da atividade industrial, do empreendedorismo, da educação e da inovação tecnológica. Uma grande perda para a empresa e o País”, afirma, em nota, Pedro Wongtschowski, presidente do conselho de administração do Grupo Ultra, que sucedeu Cunha quando deixou o posto, em 2018.

Autor/Veículo: O Estado de S.Paulo